Postagem 177
BEDIN V.I.P
Como escrever bem sem ir a
Paris
Paris é inspiradora. Por ali
grandes nomes passaram: Victor Hugo, Scott e Zelda Fitzgerald, Gertrude Stein,
Émile Zola e Oscar Wilde. Hemingway não
poderia ficar de fora e registrou suas lembranças.
Será preciso visitar a Cidade Luz para escrever bem?
“O conto escrevia-se por si próprio, e
eu tinha dificuldade em conduzi-lo. Pedi outro rum Saint James, observando a
moça todas as vezes que levantava os olhos ou quando fazia a ponta do lápis,
com um apontador, deixando as raspas encaracoladas no pires que tinha sob o
cálice.
- Eu te vi,
oh beleza, tu me
pertences agora, seja quem fôr que
estejas esperando e mesmo que nunca te veja mais em toda a minha vida -
pensei. Tu me pertences, toda Paris me
pertence e eu pertenço a este caderno e a este lápis.
Voltei a escrever, entrei a fundo na
história e me perdi nela. Agora quem a escrevia era eu; o conto não se escrevia
mais a si próprio, de modo que não tornei a levantar a cabeça. Esqueci-me do
tempo, do lugar em que me encontrava e nem sequer mandei vir outro rum Saint
James. Cansara-me dele sem pensar nisso. Terminei
o
conto, afinal, sentindo-me realmente cansado. Reli o último parágrafo e, quando
levantei os olhos à procura da moça, não a encontrei mais. Tomara que tenha ido
com um homem decente, pensei. Mas sentia-me triste.
Fechei o caderno, coloquei-o no bolso de
dentro, pedi ao garçom uma dúzia de portugaises e meia garrafa do vinho branco
seco da casa. Depois de escrever um conto sentia-me sempre vazio e
simultaneamente triste e feliz, como se tivesse acabado de me entregar ao amor
físico: estava seguro de que este conto que acabara de escrever era muito bom,
embora não soubesse quanto o era antes de lê-lo de ponta a ponta, no dia
seguinte.”
Como ser Hemingway?
Entrar fundo na história e perder-se nela requer dedicação, faz-nos
sentir cansados e mais importante que escrever é reler, de ponta a ponta,
minuciosamente, de preferência em vários dias seguintes.
Seria Paris a causadora de tamanha inspiração?
“Tornava-se mais fácil pensar quando
caminhava e fazia alguma coisa, ou simplesmente observava pessoas entregues a
ocupações de sua competência. A ponta da Ile de la Cité, abaixo do Pont Neuf,
onde se encontra a estátua de Henri Quatre, formava como que uma aguda proa de
navio e havia ali um pequeno parque à beira d'água, com belos castanheiros,
enormes e copados. Nas correntezas e redemoinhos do Sena havia excelentes
lugares para pescar. Descia-se por uma escadaria até o parque e observava-se os
pescadores que estavam por lá e debaixo da grande ponte. Os bons pesqueiros
mudavam com a altura do rio e os pescadores
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