Postagem 269
CURIOSIDADE
GÊNOVA: OS MISTÉRIOS DO PORTO
Em
agosto de 1894, um jovem sacerdote chegou à estação de Gênova, mandado por
bispo Scalabrini . Não conhecia a cidade, não tinha um tostão no bolso. A
missão que lhe havia sido confiada pelo bispo de Piacenza era simplesmente
fazer o bem aos pobres emigrantes. Padre Maldotti, assim, chegou pela primeira
vez à praça da estação, tomada por 2000 emigrantes.
É
ele mesmo que nos conta:
O
espetáculo era comovente e, por muitas razões, horripilante. Uma turba de gente
suspeita (empregados de hotéis, subagentes de emigração verdadeiros ou
improvisados) agitava-se entre aquele exército da miséria, arrastando à força
as famílias daqueles desgraçados atrás de si, rumo a destinos desconhecidos. Eu
não entendia nada, mas bem sei que o espetáculo não me divertia muito.
Um
rapazola de Cremona, mas precisamente da Ilha Doverese, com um crachá amarelo
dos nossos comitês de San Raffaele no chapéu, vem correndo a meu encontro com
os braços estendidos para frente e pede ajuda, pois lhe haviam roubado a mulher
, os filhos e uma certa sacola....! Não lhe perguntei mais nada, mas lancei-me
à caça, junto com ele, em meio àquela confusão babélica, atingido nos ouvidos
por gritos desarticulados, prantos e impropérios em quase todos os dialetos da
Itália; conseguimos com um esforço
extremo, descobrir os infelizes, empurrados por um marginal, com a famosa
sacola às costas, Deus sabe para onde.Travamos assim, muitos preâmbulos, uma
luta bastante vivaz, em que, se recebi uma boa dose de socos, posso garantir
também que os deferi, desesperadamente. A certa altura um senhor vestido de
preto veio nos ajudar: agarrou o bandido pelo pescoço e o entregou a dois
policiais.
Com
aqueles pobres-diabos dirigi-me ao oratório de comitê e outras nove famílias
seguiram-nos. Estando a salvo, começamos todos a chorar: eles de desespero; eu,
de raiva. E eis que surge novamente o senhor de preto:
“Quem
é o senhor?”
“Antes
de mais nada “ respondi – “sou um cidadão livre. Depois, por graça de Deus,
missionário , mandado para cá para fazer por esses pobres criaturas o que a
polícia não sabe ou não pode fazer.
Por
essa resposta, o distinto senhor atirou seus braços em meu pescoço. Depois acrescentou: “No senhor as pessoas
acreditarão. A mim, delegado de Segurança Pública, nunca deram ajuda nem em mim
confiaram, lá em cima no Palazzo Ducale.
“Pois
bem” – respondi – “combateremos juntos”. E combatemos verdadeiramente.
Para
compreender o que acontecia em Gênova naqueles anos é necessário recorrer à lei
da emigração promulgada pelo governo Crispi em 1888. É um exemplo clássico de
um documento preparado com as melhores intenções pelos assim chamados
“especialistas” que trabalham dentro das muradas dos ministérios e que, ao
final, causam muitos aborrecimentos. Com aquela lei, na verdade, pretendia-se
estabelecer a ordem entre os agentes de emigração que operavam em toda a
Península fora de qualquer controle. Os especialistas pensaram, justamente, que
a melhor coisa seria vincular o exercício dessa atividade à posse de uma
habilitação, mais ou menos como se faz com as lojas ou com as atividades
liberais.
A
única condição era o deposito de uma
soma de dinheiro nos cofres do Estado.
Foi
um desastre. Graças à habilitação, os agentes de emigração obtiveram de fato o
reconhecimento oficial : Tornaram-se profissionais tutelados pela lei. Em poucas semanas”os mais esplêndidos
canalhas – ainda é Maldotti que está escrevendo – os desclassificados de todas
as espécies, os analfabetos mais evidentes correram a engrossar o exército dos
novos profissionais. Fortalecidos por seu inesperado direito, fizeram
audaciosos a escalada a prefeituras e sub-prefeituras e obtiveram cerca de 20.000
habilitações, munidos das quais percorreram os campos fazendo uma propaganda
legal . E a propaganda foi implacável, escandalosa. Alguns foram vistos nos
vales da região Bergamo pregando em cima de carroças, vestidos excentricamente
como saltim-bancos, nos mercados e nos cemitérios, discorrendo sobre as
fortunas extraordinárias destinadas aquele que partissem para as Américas. Os
fretes pagos pelo governo do Brasil foram uma benção para esses profissionais.
Os 50.000 camponeses que antes emigravam eram agora 200.000 por ano. Apenas no
porto de Gênova, de 1882 a 1894, partiu um milhão e meio de emigrantes, dos
quais 719.000 dirigiam-se ao Brasil “.
Aquilo
que aconteceu em Gênova era escandaloso e terrível . Cambistas que davam
dinheiro falso ou exigiam taxas de agiotas. Preços de fretes triplicados. Taxas
impostas (e embolsadas) até ao que tinham a viagem paga pelas autoridades
brasileiras. Desconto ferroviários anulados (e sempre embolsados) com a
desculpa de que se tratava de trem especiais...E as estradas, as portas das
igrejas e dois edifícios públicos cheio de grupos de emigrantes desgraçados e
famintos, semi nus, tremendo de frio, mesmo nas noites rígidas e chuvosas de
inverno.
O
que o missionário não conseguia entender era por que toda aquela gente infeliz
chegava a Gênova cinco, seis e até dez dias antes da partida. E por que todos
chegavam com um certo bilhete que carregavam no chapéu, com o endereço do hotel
e o carimbo da agencia que os faria partir. Não lhe foi difícil encontrar a
resposta. Uma vez que a lei (ainda a estranha lei de 1888) impunha aos agentes
que cuidasse do emigrante até a partida, esses os faziam chegar vários dias
antes e os abandonavam nas mãos dos hoteleiros, depois de, evidentemente, terem
embolsados uma cifra correspondente a cada cliente providenciado .
A
esta altura intervinham o taberneiro, o carregador, o mensageiro, os
fabricantes de bebidas, os sub agentes, os cambistas ... E cada um exigia o
sangue e a honra das vitimas , por que por sua vez, tinham que pagar uma outra
turba de vampiros e de sub vampiros, grande e pequeno, que arrumavam os
clientes. De modo que, a qualquer custo, das veias estéreis daqueles infelizes,
deveria sair sangue e mais sangue para todos”.
O
missionário armou um piquete na estação e, cada vez que chegava um trem, a
primeira coisa que fazia era arrancar dos chapéu os endereços dos hotéis,
provocando assim um balburdia indescritível entre os interessados, denunciando
sem misericórdia ao delegado de segurança pública (o senhor Malnate, aquele do
primeiro encontro) os culpados por abuso e trapaça, provocando protestos e
contravenções quase todos os dias. Depois, com os emigrantes em batalhões
cerrados, levando crianças e sacolas ou segurando velhos cambaleantes,
alcançavam o porto , sempre lutando ao longo do trajeto com os canalhas que
procuravam roubar alguma família. E ainda era necessário correr junto com o
chefe de família, para conseguir a passagem , de uma agência a outra e desta
para o navio. “ não raras vezes a noite
nos surpreendiam em jejum, por que não deixávamos os cais se antes não
tivéssemos encontrados abrigo para cada um de nosso protegidos”
O fato de que um padre, mesmo que amparado por
um extraordinário inspetor de segurança, se opusesse as manobras dos
exploradores tirava o sono de muitos.
Padre Maldotti ficou sob a mira desses homens e foi denunciado.
Houve
encontro entre hoteleiros e recrutadores. Um protesto foi levado a prefeitura.
Houve até ameaça de morte.
O
missionário pensou que o melhor a fazer seria passar ao ataque. Fez publicar no
jornal um título em letras grandes: Amanhã
desvendaremos os mistérios do porto de Gênova e a infame exploração dos
emigrantes. Por vinte dias despejou documento e por vinte dias os jornais
comoveram a cidade com a narração de baixeza espantosa. Houve ameaças de querela: houve também muitos
processos: mas quem pagou as despesas de tudo isso foram os exploradores,
grande e pequeno, pego pela armadilha.
O
prefeito foi transferido . D Roma , finalmente, chegou a esperada lei. As
companhias de navegação e os agentes tinham agora a obrigação de chamar os
emigrantes a Gênova apenas na véspera de sua partida: cabia a ele o ônus de
alojá-los e de nutri-los gratuitamente até o momento do embarque. O missionário
vencera.
Padre
Maldotti também contribuiu para uma outra iniciativa importante a favor dos
emigrantes: a criação de um abrigo para acolher o viajante a espera do
embarque. O problema era grave por que as companhias mantinham os emigrantes
nos navios, amontoados aos milhares, antes mesmos da vinda da inspeção
sanitária , com perigo de se alastrassem epidemias durante a navegação. O navio
Pará, durante uma viagem, teve 39 de seus passageiros mortos pelo sarampo... A
lembrança ainda esta viva na memória de muitos.
O
projeto de uma CASA DO EMIGRANTE , proposto anteriormente por bispo Scalabrini,
avançou com dificuldade, em meio a entraves burocráticos e vários obstáculos .
O missionários gostaria que tivesse sido o governo a assumir a iniciativa, com
um serviço devido aquele que se preparavam para deixar o país , mais as
resistências foram muitas. Chegou-se a 1904, quando explodiu um nova
acontecimento: O retorno a pátria de
milhares e emigrantes, que ficaram sem condições de sobreviver na América do
Sul . O missionário teve de renunciar aos seus projetos e a se dedicar a essa
nova desventuras.
A
história da missão do porto continua a ser, de qualquer maneira, exemplar. É a
história de uma cidade e de uma nação, por muitos anos, assistem , indiferente,
a um espetáculo revoltante: centenas de milhares de pessoas exploradas em modo
sistemático com a cobertura da lei. Quem batalha pelos emigrantes é um padre:
um daqueles padres extraordinários que o bispo de Pianceza tinha preparado para
defende-los . E a participação do missionário será eficaz e chegará tão perto
das raízes do mal que o governo se sentirá obrigado a sair de uma culposa
ineficiência e a mudar, finalmente, uma lei errada.
Padre
Maldotti até fez 2 travessias com os emigrantes para verificar as condições da
viagem. Ao retornar , formulou as autoridades algumas propostas, que em parte,
serão acolhida pela nova lei da emigração.
Fez
também duas longas viagens à América do Sul para ver pessoalmente as condições
de vida dos emigrados.
Realizou
tais viagens incógnito, vestido de explorador, acompanhado por um médico.
Visitou numerosos centros agrícolas do Brasil e esteve nas capitais do Uruguai
e da Argentina. Percorreu 6000 Km de
trem e 500 a cavalo, pregando , observando, anotando . E como os jornalistas o
perseguiam para conseguir uma entrevista e utilizavam o telegrafo para seguir
seus passos, viu-se obrigado a se vestir de brigante. Um velho amigo encontrado
20 anos depois em plena floresta, deixou-lhe uma foto como recordação daquele
maravilhoso disfarce
No
final de sua viagem, padre Maldotti escreveu, para seus bispo e para as autoridades italianas, uma documentação
rica em observações e propostas. Entre as propostas, havia a criação junto aos
consulados, de um funcionário com atribuições especiais, encarregado da tutela
e da assistência dos italianos no exterior. Também essa proposta será acolhida pela primeira lei sobre
a emigração aprovada pelo parlamento italia
Observação; Embora esta postagem, não tenha Bedin's, trata-se da história da emigração italiana para o Brasil e aí estão também os Bedin's.
Observação; Embora esta postagem, não tenha Bedin's, trata-se da história da emigração italiana para o Brasil e aí estão também os Bedin's.
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