BEDIN V.I.P.
Com a natureza marcada na pele
Tatuador de Campinas (SP) cria imagens que valorizam as belezas da fauna e da flora do Brasil
Por Fábio Gallacci, Terra da Gente27/09/2018 09h56 Atualizado há 20 horas
Lobo-guará foi eternizado pela bióloga Beatriz Helena BEDIN Affonso: amor que surgiu no começo da carreira
Foto: Foto: João Paulo da Costa
“Animais e plantas geram imagens belas e intensas. Procuro passar o que acredito em relação ao respeito à natureza não só na tatuagem em si, mas também conversando com meus clientes"
“Sigo na carreira por acreditar que eu me realizo como artista e ainda posso, de alguma maneira, trocar coisas boas com cada pessoa. A tatuagem é uma troca e isso é o que mais me motiva. Cada história, cada intenção, tudo isso é muito mágico pra mim. Acredito que cada tatuador atrai um tipo de público. Como fui criado no mato, as pessoas me procuram muito para tatuar animais, plantas, paisagens. E eu adoro”, confirma o artista, que também curte fazer esportes de aventura e ecoturismo em trilhas, montanhas e trilhas pelo Brasil nos momentos de folga.
Guilherme Madalosso, que trabalha com recuperação da vegetação nativa, se inspirou em uma folha de chichá: mensagem de preservação
Foto: João Paulo da Costa
Recriar os detalhes das imagens e suas texturas é um desafio e tanto, que requer estudo e domínio das técnicas de cores, luzes e sombras. O tempo para concluir uma tatuagem varia bastante. Pode-se levar uma hora ou muitos dias para se chegar ao resultado desejado. Isso depende do estilo escolhido, tamanho, local do corpo, se terá cor ou não.
“Tive uma cliente que pediu pra que eu fizesse 23 espécies de plantas e cada uma representava uma pessoa e um momento que ela tinha vivido. Ocupei metade das costas dela com essa tattoo e ficou muito legal”, lembra Costa.
O tatuador acredita que o seu trabalho tem o poder de multiplicar mensagens em defesa do meio ambiente. “Toda tattoo é uma obra viva, que anda pra lá e pra cá. Acredito que, num mundo visual que vivemos, tatuagens desse tema sendo expostas podem sim influenciar as pessoas”, diz.
“O escultor Henry Moore dizia que, antes de trabalhar, sempre saía pra ver o mundo. Também sou assim. Ver formas, cores, luzes e sombras... Sempre que posso estou com a natureza e isso interfere positivamente na minha arte. Procuro ser ecologicamente coerente inclusive nos materiais que uso pra trabalhar”
Um dos clientes do tatuador é Guilherme Madalosso, de 29 anos, formado em gestão ambiental pela Esalq/USP, em Piracicaba (SP). Ele trabalha com recuperação da vegetação nativa nas margens de córregos, rios e nascentes para a proteção e conservação da água, fauna e flora. “A tatuagem foi idealizada e desenhada a partir de uma folha de chichá e composta por fotos tiradas por mim nas nossas áreas de restauração florestal, contemplando espécies florestais nativas como a juçara, samambaia e embaúba, assim como o gavião-de-rabo-branco, muito presente nas áreas naturais conservadas da Mata Atlântica”, explica o dono do desenho.
Rafaela Franquini tatuou uma onça, que reflete a sua personalidade: animal é forte, observador, corajoso e inteligente —
Foto: João Paulo da Costa A bióloga e professora Beatriz Helena BEDIN Affonso, de 24 anos, atualmente faz mestrado em biodiversidade animal na Unicamp e tem um belo lobo-guará tatuado. Desde pequena, ela sempre foi apaixonada pela natureza e sonhava em ser bióloga. Durante a graduação, teve a oportunidade de trabalhar como voluntária na Associação Mata Ciliar, ONG de Jundiaí (SP) que, dentre outras coisas, realiza o resgate, reabilitação e soltura de animais silvestres vítimas de atropelamentos, tráfico e maus tratos.
“Lá, tive contato cara a cara pela primeira vez com o lobo-guará e me apaixonei imediatamente por essa espécie. É o maior canídeo que temos no Brasil e sua presença no Cerrado é fundamental na dispersão de sementes e manutenção do ecossistema em que se encontra. Mesmo sendo endêmica da América do Sul, poucas pessoas conhecem essa espécie ou sabem como a destruição do Cerrado está afetando a nossa biodiversidade”, alerta Beatriz.
"Escolhi tatuar essa espécie como forma de eternizar meu amor pela natureza e minha trajetória de vida, além de ser uma homenagem para essa espécie majestosa e tão importante para o nosso País”
Onça
Seguindo a linha de que a tatuagem passa mensagens, a onça no braço direito da gerente de riscos e controles internos Rafaela Franquini é como a dona do desenho se identifica no mundo. “Ao mesmo tempo que intimida, evoca respeito. Extremamente forte, observadora, corajosa e inteligente. Simboliza a minha força, cautela, agilidade e habilidade para saber agir e, então, conquistar meu espaço. Tatuar a onça serviu para representar como me sinto e me vejo”, afirma.
O doutor em ecologia pela Unicamp Márcio Uehara-Prado escolheu um desenho de extremos, algo que liga a leveza a um lado mais sombrio. E a natureza está presente também. “Minha tattoo é a junção de duas paixões: borboletas e caveiras, representando uma dualidade entre a vida e a morte”, comenta ele, satisfeito em transportar para o corpo os seus ideiais e podendo passar o seu recado aonde quer que esteja.
Pesquisa:Internet
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