15 de março de 2017

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BEDIN V.I.P.

FREI CAPUCHINHO GILBERTO BEDIN

Igreja de Nossa Senhora celebra 299 anos do milagre com festa e oração




Rodivaldo Ribeiro

No último aniversário antes dos 300 anos do milagre de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha do Brasil (na nomeação oficial dada pelo Vaticano e sancionada pelo papa Pio XI em 1930), a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida vai promover, como faz há 28 anos, com novena, procissão, chá com bolo, almoço, quermesse e festa neste 12 de outubro. Mas a celebração começou desde o dia 3, quando foi aberta a novena.
Gilberto Leite/Rdnews

Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha do Brasil

Este ano, o tema é a sustentabilidade, explica o frei capuchinho Gilberto Antônio BEDIN, o pastor da obra naquela comunidade do bairro de mesmo nome da santa. Por isso, os fieis desenvolveram toda a decoração da festa com materiais recicláveis, como garrafas pet, tampas e diversos tipos de materiais, entre os quais até embalagens de docinhos servidos em celebrações de aniversário e casamento.

A celebração segue firme, mesmo em tempos de diminuição da proporção de católicos na população de Mato Grosso, uma queda de 23% em duas décadas, segundo o último censo do IBGE, realizado em 2010. De cada 100 mato-grossenses que declaravam alguma religião em 1991, 83 se diziam católicos apostólicos romanos. Em 2010, o número caiu para 64. As denominações evangélicas pentecostais e neopentecostais fizeram caminho inverno, subindo de 11,13% para 24,55% no mesmo período analisado. Movimento semelhante é percebido nacionalmente, nas duas últimas décadas, quando os católicos deixaram de ser 83,3% da população para 64,6%; enquanto os evangélicos subiram de 9% para 22,2%.

Para o padre Deusdedt Almeida, da paróquia Coração de Maria, é movimento normal em tempos de perda de tradições. Se antes o catolicismo era passado de pai para filho, há algum tempo isso já não mais acontece. E os mais jovens tendem a atender a outros apelos. Mesmo não havendo estatísticas oficiais, é possível perceber no convívio social, e especialmente em mídias sociais, um aumento de pessoas que se declaram abertamente ateias, sem religião ou mesmo aversas a qualquer tipo de crença.

O frei Gilberto Bedin concorda com ele, mas considera que Deus sempre será a busca máxima do gênero humano. "Tudo que nossa lógica não consegue abarcar só vai encontrar conforto na ideia e realidade de Deus. Ele é tudo que nós não somos, eterno, imutável, justo".

Aparições de Nossa Senhora

Frei Gilberto BEDIN lembra a proximidade da comemoração do tricentenário daquele dia em que, no rio Paraíba do Sul, interior de São Paulo, dois escravos foram agraciados com a descoberta dos dois pedaços de imagem da, para os católicos, rainha mãe que, unidos, proporcionaram uma pescaria farta e providencial para a manutenção da vida dos dois (estavam condenados à morte caso nada levassem para a festa de reis).
O papel de mãe, aquela que defende, acolhe e intercede, é realçado por Frei Gilberto na hora de explicar o motivo de haver tantas nomeações para o nome de Maria, mãe do Cordeiro de Deus e rei dos reis. No México, onde está situado o maior templo em homenagem à Maria no mundo – o de Aparecida é o segundo - por exemplo, ela se chama Nossa Senhora de Guadalupe; em Portugal, Nossa Senhora de Fátima, entre outras nomeações.

“Nossa Senhora é uma só, a mãe de Deus. A questão dos títulos é conforme as aparições, no Brasil, apareceu para os escravos, negra. No caso da padroeira da América Latina [Nossa Senhora de Guadalupe], ela tem características indígenas, para os portugueses, em Fátima, ela veio como europeia. A mãe de Deus se manifesta conforme a necessidade do povo que clama por ela”, esclarece
Frei Gilberto sobre o porquê das aparições.

Na tautologia católica, a mãe de Jesus Cristo manifestou-se em diversas localidades mundo afora, sempre em momentos cruciais da história humana, para lembrar os homens da misericórdia divina.
 A mãe que intercede junto a Deus, continua Frei Gilberto, vem para acolher os que sofrem; no caso dos escravos brasileiros, para livrá-los da morte; no de Guadalupe, para tentar frear o extermínio dos povos indígenas do México; em Fátima, Portugal, para advertir os homens sobre seus maus caminhos e a consequência nefasta dessas escolhas pelo lado obscuro da condição humana (foi pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial).


Gilberto Leite/Rdnews

Frei Gilberto BEDIN junto a imagem de Nossa Senhora Aparecida em sua paróquia
Padroeira do Brasil

Sobre o motivo dela ser declarada Padroeira do Brasil, o sacerdote explica que isso não veio de Roma, muito pelo contrário. “Roma a aclamou a decisão do povo do Brasil devido à grande devoção que a santa sempre teve no país inteiro, pois a maioria da população daqui é negra e se parece com ela. Por isso há infinitas paróquias que chamam Aparecida. Ela tem essa dimensão.”, contextualiza. O frei lembra também que Maria é venerada, não adorada. E não é maior que Deus, que o Espírito Santo nem ninguém, “ela é a intercessora, a mãe de Jesus. Pra nós tem um papel importante por ser aquela que disse o sim à divina concepção imaculada e foi fiel ao projeto de Deus até o fim, com todas as consequências desse ato. É quem acolhe e protege; lembra-nos de nossa mãe biológica, da mãe do coração, de nossas avós”.

Como já dito, Maria foi proclamada Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha do Brasil, em 16 de julho de 1930, pelo papa Pio XI. A data de 12 de outubro foi escolhida como oficial para a celebração do milagre e da santa porque foi nesse dia, em 1980, que o papa João Paulo II consagrou o Santuário Nacional de Aparecida, na cidade de Aparecida.

Maria, mãe de Jesus, teve definido o dogma da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem no dia 8 de dezembro de 1854, por meio da promulgação da Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (“Deus Inefável” em latim), escrita pelo Papa Pio IX. Só tornado oficial depois de aprovado por bispos de todo o planeta, define que Maria concebeu Jesus Cristo por obra do Espírito Santo, sem pecado e que virgem ela foi até o nascimento do messias e redentor.

Literalmente: “A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis”.

Historicamente, a aparição da imagem que mais tarde iria ser nomeada Nossa Senhora da Conceição Aparecida teria se dado em 1717, em plena época das Capitanias Hereditárias. O governante das capitanias de São Paulo e Minas de Ouro (ainda não eram Gerais) estava de passagem por Guaratinguetá, no Vale do Paraíba.

Foi para a festa em torno dessa visita que os escravos Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso foram designados a pescar para o banquete. Acontece que outubro não é época boa para peixes, e os três sabiam que não completar a tarefa significaria a morte de todos. Foi quando resolveram rezar por proteção e graça de Maria.

Permaneceram por horas em cima da canoa sem nada conseguir, até que, já exaustos, tentaram uma vez mais e puxaram nas redes a imagem de um corpo de mulher sem cabeça. Tentaram de novo e desta vez o que veio foi a cabeça. Assim que juntaram os dois pedaços, encaixados perfeitamente, passaram a pegar tantos peixes que a canoa iria virar com o peso se não saíssem dali.

 “A imagem original foi finalmente restaurada inteiramente e está lá no santuário consagrado de Nossa Senhora de Aparecida”, comemora Frei Gilberto. Na paróquia comandada por ele, há uma réplica perfeita da imagem original retirada do rio Paraíba do Sul há três séculos.










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