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HISTÓRIA
IMIGRAÇÃO TRIDIFICIL
Imigração tridificil
Após uma difícil viagem transatlântica, os primeiros italianos deram duro para ocupar as terras gauchas
Luiza Horn Lotti
Imigrantes na região de Caxias do Sul em 1911.
Abrir clareiras nas matas e construir casas de pau-a-pique em um local totalmente estranho. Este era o primeiro passo dos italianos que chegavam ao Rio Grande do Sul na esperança de melhorar de vida. A chegada dos imigrantes estava de acordo com o que o governo imperial pretendia: importar mão de obra europeia e vender terras gaúchas ainda inabitadas para aumentar a população e a produção agrícola. De 1875 até 1914, o estado recebeu cerca de 80 mil italianos, oriundos em sua maioria das regiões do Veneto e da Lombardia.
Os imigrantes fundaram as primeiras colônias em Conde D’Eu, Dona Isabel (atuais Garibaldi e Bento Gonçalves) e Caxias. Em 1877, foi ainda organizada a colônia Silveira Martins na região central do estado. A ideia era privilegiar italianos que fundassem grupos coloniais no campo, para desenvolver a policultura e abastecer economicamente a região.
A travessia do Atlântico, que durava mais de um mês, era feita em navios sobrecarregados, por isso as doenças eram frequentes e a mortalidade elevada. Após o desembarque no Rio de Janeiro, os italianos ficavam em quarentena na Casa dos Imigrantes e depois eram transportados em vapores para Porto Alegre, numa viagem de dez dias. Quem fosse para Dona Isabel, Conde D’Eu e Caxias partia da capital gaúcha em pequenas embarcações. Já os que seguiam para Silveira Martins faziam boa parte da viagem de trem.
Quando chegavam, os imigrantes recebiam os lotes – unidades de base da economia colonial –, nos quais se praticava uma divisão etária, sexual e familiar das tarefas. Os homens tratavam da agricultura e dos animais de maior porte, enquanto as mulheres ficavam com afazeres domésticos. Dependendo da força, as crianças de 8 anos já pegavam na enxada.
O isolamento das colônias, na fase inicial, fez com que se produzisse quase tudo o que era necessário para o consumo local. O comerciante vendia o que o colono não produzia – sal, ferramentas e tecidos – e comprava o excedente colonial. As frutas colhidas nos lotes eram consumidas in natura ou transformadas em geleias e compotas, que podiam ser escoadas para o mercado local. Em cada núcleo surgiram profissionais como ferreiros, sapateiros, alfaiates e marceneiros. Logo depois, o vinho produzido artesanalmente passou a ser fabricado por complexos estabelecimentos vinícolas.
Religiosos, os imigrantes se reuniam na hora de rezar. Por isso, as igrejas, escolas, seminários, capelas e jornais clericais eram as principais instituições culturais e políticas, em particular no mundo rural. Nos casamentos, os pais dotavam os filhos com terras e as filhas com o enxoval, composto de uma máquina de costura, uma arca com roupas, uma vaca ou uma mula. Nesse ritmo, a partir do século XX, os novos ítalo-gaúchos logo desceriam a serra e se espalhariam por todo o Rio Grande do Sul.
Luiza Horn Iotti é professora da Universidade de Caxias do Sul e autora de Imigração e poder: a palavra oficial sobre os imigrantes italianos no Rio Grande do Sul (1875-1914) (Educs, 2010).
Pesquisa:Internet
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