22 de maio de 2015

Postagem 706
BEDIN V.I.P.

FERMINO BEDIN

Crônica de um supermercado

Era um fim de semana na grande urbe paulistana. Melhor dizendo, sexta-feira 13. Pessoas, não poucas, carregam consigo a crença (preconceito!) de que sexta-feira e 13... pode não ser nada, mas... Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, recomendo a afirmação frequente de Tancredo Neves.
As filas nos caixas, no respectivo mercado, se estendiam por entre as gôndolas: carrinhos lotados, cestos nos braços, murmúrios generalizados, reclamações - a coisa está emperrada, essa p... não anda. Alguns, notoriamente impacientes, passavam de uma fila para outra na perspectiva de abreviar seu tempo de espera. Olhos no relógio a todo instante. "Cadê o gerente dessa coisa, (termos usados na hora, omitimos) harmonizavam-se as reclamações sem encontrar a quem se dirigir.
Não bastasse a lentidão das filas devido ao excesso de pessoas no horário, parte do corredor que mediava entre uma gôndola e outra encontrava-se bastante atravancado, quase parando. Postados no meio do corredor e apoiados nos carrinhos, alguns indivíduos privilegiados pela estatura, (silhueta notoriamente avantajada) dificultavam o livre trânsito de muitas pessoas que iam e vinham, umas com outros carrinhos ou com cestos e, ainda outras, simplesmente especulando mercadorias e preços ou puxando criança pela mão.
O forte calor provocava desconforto, em muitos sentidos. Houve que, dentre os homens, despisse a camisa amarrando-a aos quadris. Não deixou de haver murmúrios de reprovação (pouca vergonha, silenciavam por entre os dentes, pessoas recatadas ) afinal está-se em espaço público. Há senhoras, crianças e pessoas que não se familiarizam com certas liberdades em logradouros públicos, concluíram tacitamente muitos com tímido ceno de cabeça, para quem tivesse a coragem de se manifestar, olhando furtivamente para os lados, temendo censura.
Mas os "descamisados" mantiveram a postura. Não se deixaram intimidar pelas desaprovações tácitas de alguns. Perceberam que parte do setor feminino presente nas filas, dava-se a entender que se solidarizava ao protesto, ou não reprovava tal atitude com muita severidade. Até lhes foi gratificante, posto que olhavam e sorriam.
A fila movia-se devagar e as queixas cresciam: mais caixas! Surpresa: forte temporal se arma e trovoadas e raios se fazem sentir provocando a queda da energia na região e no mercado. Tudo escuro. Santo Deus! Uma gritaria desconexa se generaliza pelo mercado todo. Algazarra! Saques? Nada disso se observou, até porque o tempo passado no escuro, foi breve. Uma lanterna, de imediato, lançou um ponto de luz na direção das portas de saída. Prudência de empresário, é claro!
Homens de feição avantajada se posicionaram rapidamente nas saídas prevenindo fugas e saques. Seria alguém da gerência? Bufavam alguns. Momentos de incertezas e de insegurança. Mas, eis que a luz do mercado se restabelece. Um suspiro de alívio difunde-se por entre as gôndolas e por todo o mercado. E a segurança para os administradores. Fortes ventos, chuvas em açoite, empo escuro lá fora. Mas as filas continuaram um tanto desajeitadas, à primeira vista, mas logo se repuseram, na medida do possível, cada um em seu lugar. Junto a isso tudo, os pacientes compradores associaram ao desconforto das filas, de espera, mais um, ter de esperar a chuva passar. Coincidência ou não, desafogavam uns, sexta-feira 13...! Estendiam um olhar sobre a população quase implorando confirmação. Outros: Não acreditar nas bruxas... tudo bem, mas...

Fermino BEDIN

Professor de Filosofia, Mestre em Filosofia da Educação - Universidade Paulista

Autor do livro: METODOLOGIA - O caminho da Ciência

TAGS | Crônica, sexta-feira, supermercado

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