6 de janeiro de 2023


 Postagem 4380

BEDIN V.I.P.

CRISTIANO BEDIN DA COSTA 

Cristiano BEDIN da Costa
 


Trecho de “Uma escrita sobre nada” Cristiano BEDIN da Costa e Marcele Pereira da Rosa

“Uma escrita para nada, escrita suja, carnal e fecunda, vizinha do estrangeiro, da falta de representação, pois atravessada por devires, não consegue tomar distância de uma política, de um modo de estar no mundo, de uma maneira de ser que inventa seus próprios meios de respirar.

Talvez seja essa mesma a nossa tarefa, deixar-se apaixonar pelos vazios e não pelos cheios, ao modo daquele menino que gostava de carregar água na peneira, sabedor de que os primeiros são maiores e até infinitos (Barros, 1999).

Se o terreno de nossa prática é mesmo o da página, que nele possamos então encontrar um tanto mais de vazio, um tanto mais de nada.

Escrever para nada, com nada, pelo nada. Mesmo que assim nada passe e se não passar não grude e se não grudar não fique e se não ficar não vá e se não for não passe e se não passar não ressoe e se não ressoar não se curve e daí bem se saiba, bem se insista na permanência, bem se vire no assim mesmo.

Mas se virar já é uma outra coisa, e a idéia talvez seja essa mesmo.

Não há nenhum problema nisso.

Só assim se cansa, só assim dança — ao menos por enquanto — só assim esgota, só assim tropeça, só assim se perde, só assim desiste.

Escrever transpondo a faca do mendigo, atirando lírios aos anjos, sentando no meio de um refrão, dançando apenas quando a agulha salta.

Escrever apreciando o odeia eu diário, esquecendo memórias, abstrações e fantasmas.

Escrever pelos cérebros que estão mal, por tanto(s) nó(s) e por aquele pequeno e solitário ponto sem contraponto, por aquela pintinha qualquer que sonha com a massa, que quer ser elemento de uma constelação, animal em uma matilha, multiplicidade de sardas sobre um rosto…

Escrever como um cão que faz seu buraco, um rato que faz sua toca (Deleuze E Guattari, 1977,p.28), encontrando assim seu próprio ponto de subdesenvolvimento, seu próprio patoá, seu próprio deserto.

Escrever escavando a linguagem, fazendo-a seguir em uma linha errante, sóbria, em condições revolucionárias no seio de uma língua estabelecida.

Tornar-se o nômade de sua própria língua.

Assim, quem sabe se possa correr o risco de dar em nada…”

— Cristiano BEDIN da Costa e Marcele Pereira da Rosa

Trecho copiado de: http://coral.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/015e2.pdf


Tradução:Google
Pesquisa:Internet

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