29 de março de 2014

Postagem 071
BEDIN V.I.P

CELSO BEDIN

ENTREVISTA PARA O JORNAL DA AJUFESP

CELSO BEDIN O JUIZ QUE TRATAVA OS SONEGADORES A PÃO   E ÁGUA

AJUFESP – Por que o direito? Conte um pouco da sua vida acadêmica?

Celso BEDIN – Faço parte da segunda geração de italianos do Vêneto, que migraram para o Brasil para cultivar café.                                     
Nasci numa fazenda, onde passei os primeiros oito anos. Meus pais tornaram-se pecuaristas, assim como meus tios. Não havia nenhum membro da família envolvido com o Direito nem tinha outra pessoa como referência, mas o certo é que já com cerca de 11 anos de idade sabia que queria ser advogado. Poucos anos depois, decidi que iria estudar na Universidade de São Paulo. Morava, ainda em Rancharia na região de Presidente Prudente. Só conheci a capital nas vésperas do ingresso na Faculdade do Largo de São Francisco. Acho que a escolha da profissão foi mesmo coisa do destino 

.AJUVESP – Como iniciou a sua careira?

Celso BEDIN – Colei grau no final do ano de 1970 e advoguei até 1976 quando me tornei juiz de Direito de São Paulo, onde permaneci até 1994. Aposentei-me assim que reuni os requisitos necessários, para poder exercer outra atividade e proporcionar melhores condições de vida à família. Tenho dois filhos: um jornalista e advogado, e outra Arquiteta.

AJUVESP – O que leva um juiz estadual a, depois de anos na judicatura , optar pela magistratura federal?

Celso BEDIN – Ao aposentar-me em 1991 não tinha em mente a Magistratura Federal, mas uma vez mais o destino, que felizmente proporciona-me muito bons momentos conduziu-me até ela. Há profunda diferença entre a Justiça Estadual e a Federal. Lá prepondera o direito privado e o processo quase nunca prescinde da dilação probatória com colheita de provas técnicas e oral; aqui predomina o direito público e em regra a lide versa questão de direito. Por isso, tive que estudar muito. Logo depois de deixar a Magistratura Estadual , comecei as ler alguns livros de Direito, o que quase não fazia enquanto trabalhava , porque o volume de serviço era muito grande. Gostei muito de voltar a estudar e passei a frequentar as aulas do Curso do Professor Damásio, até que em 1993 ingressei na Justiça Federal.

AJUFESP – Na Justiça Federal em que Subseções e Varas o senhor atuou?

Celso BEDIN– Trabalhei alguns anos na subseção de Santos, depois passei rapidamente por São José do rio Preto e por fim, fui juiz da 5ª Vara das Execuções Fiscais de São Paulo
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AJUFESP – Por quanto tempo o senhor foi juiz federal?

Celso BEDIN– Permaneci na Justiça Federal 12 anos
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AJUFESP – No ano de 2005, o jornalista Josias de Souza da Folha de São Paulo, escreveu “a 5ª Vara de Execuções Fiscais de São Paulo e comandada pelo juiz Celso BEDIN, que vem se notabilizando por tratar sonegadores a pão água e lei”. Por que o senhor acha que tinha essa fama, arrancando elogios da imprensa, inclusive?

Celso BEDIN– A execução fiscal era o “patinho feio” da Justiça Federal. Era a última opção dos Juízes. Fruto de visão antiquada dos créditos fazendários, nas varas cumulativas, antigamente, havia orientação no sentido de que se e quando houvesse tempo os processos de execução seriam examinados. Com a especialização e possivelmente em decorrência da estabilização da moeda em 1994, o processo de execução fiscal passou por profunda transformação.  As dívidas deixaram de ser corroídas pela inflação, possibilitando perfeita visão de sua grandeza intrínseca. Atualmente são muito frequentes as execuções de quantias elevadíssimas, muitas atingindo centenas de milhões de reais até bilhões. Neste cenário as partes passaram a cuidar do processo com maior carinho, exigindo prestação jurisdicional de melhor qualidade. Ha casos em que, foram interpostos três ou quatro agravos de instrumento, o que dá bem noção do grau de dificuldade na condução do processo. O Juiz de vara especializada em execução fiscal foi equiparado em importância ao das Varas Cíveis.

AJUFESP – O que o levou a retomar os estudos e prestar um concurso para outorga de delegação de protestos (cartório), sendo aprovado e assumindo a titularidade de um Tabelião de Letras e Títulos de Santos?

Celso BEDIN– Estava bastante feliz na 5ª Vara das Execuções Fiscais e sequer cogitava de mudar de rumo, mesmo porque sou idoso, por definição legal. Ocorre, contudo, que as modificações constitucionais operadas em 1994 estabelecendo teto de vencimentos deixaram-me muito preocupado. Vi-me na contingência de ter de trabalhar de graça porque sou juiz de Direito inativo. Não gostei da ideia e resolvi concorrer a uma delegação de Tabelião de Protesto. Por sorte, pude escolher a cidade de Santos, que conheço há anos e tem uma excelente qualidade de vida. Embora satisfeito com a nova atividade, não posso deixar de lamentar ter sido praticamente coagido a pedir exoneração da Justiça Federal de São Paulo, onde tenho muito bons amigos e que reputo uma das melhores do Brasil.

AJUFESP – O senhor não foi o único a prestar esse tipo de concurso outros magistrados federais também o fizeram, com sucesso de aprovação semelhante ao seu. A que o senhor reputa essa decisão, já que a magistratura é o sonho de grande parte dos bacharéis em direito?

Celso BEDIN– A resposta a esta indagação é difícil. A decisão é muito subjetiva. Sinceramente,  não creio que seja pelo dinheiro, mesmo por que os juízes são inteligentes e devem saber que neste segmento da economia, como nos demais, há delegações bem rentáveis e outras não. Há muitas que são deficitárias. Aos que tiverem interesse na mudança recomendo cautela
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AJUFESP – Muitos temem prestar um concurso semelhante ao que o senhor enfrentou por entenderem que a atividade pode ser monótona, isso é verdade? Conte como é a atuação à frente de um Tabelião de Protesto de Letras e Títulos?

Celso BEDIN- Não é verdade. A administração de uma serventia extra judicial é mais complexa do que a de uma Vara da Justiça. Exige bons conhecimentos de vários ramos do Direito, como Civil, Comercial, Tributário, Trabalhista e não prescinde de muito tino empresarial. O titular da unidade de serviço responde pela contratação, direção e remuneração dos servidores, e de tudo o mais necessário. A serventia é uma empresa. Não tive receio de enfrentar o desafio porque tinha um pouco de experiência posto que antes da magistratura trabalhava alguns anos como contabilista e administrador de empresa
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AJUFESP – A magistratura provoca saudade ?

Celso BEDIN– Claro que sim. Pertenci à nobre classe durante cerca de 27 anos sendo 15 no Estado e 12 na Federal. É muito tempo. No entanto, não me arrependo da decisão de seguir este novo caminho. Pode ser que um dia volte.

AJUFESP – Dizem que a ideia de criar a Ajufesp surgiu em um reunião realizada em um sito do senhor, isso é verdade? O senhor é um dos fundadores da Ajufesp?

Celso BEDIN – Sinto orgulho de haver assinado a ata de fundação da AJUFESP mas a iniciativa de criá-la foi do Maurício Kato, do Wilson Zahuy e outros colegas. O Maurício foi fundamental para o sucesso da AJUFESP. Primeiro presidente de uma instituição com reduzido número de associados, teve de desdobrar-se para que não desaparecesse ainda na infância. A AJUFESP foi a primeira associação regional e causou muita polêmica. A administração do Tribunal temia ter de enfrentar mais um “sindicato” e a AJUFE entendia que haveria divisão do poder. Acreditávamos, no entanto, que a associação regional era necessária para cuidar dos problemas “paroquiais” e promover reuniões de estudos e sociais, fortalecendo a célula local, colaborando a célula local, colaborando com o poder central, como de fato acabou acontecendo.

AJUFESP – Que conselho o senhor daria para um jovem que está para se formando em direito?

Celso BEDIN– O Direito continua sendo a mais forte e bem protegida corporação obreira. De tão grande, corre o risco de entrar em processo de autofagia, mas enquanto isto não ocorrer, propicia campo de trabalho de trabalho muito bom. O jovem recém formado deve analisar suas aptidões e optar área que, julgar mais adequada. O advogado, além dos conhecimentos, científicos, deve ser habilidoso na elaboração da tese que irá defender, o juiz precisa ser sereno e justo.

AJUFESP– E para os juízes que ingressaram recentemente na magistratura, quais as suas palavras?

Celso BEDIN– Honestidade é a palavra da ordem. Sejam honestos e justos para com as partes, advogados e colaboradores, mas também e principalmente para consigo mesmo. Não permitam que conspurquem as garantias mínimas para que possam decidir com independência e segundo sua própria consciência. Não fiquem presos aos gabinetes de trabalho, porque a união é fundamental para o fortalecimento do Poder Judiciário.

AJUFESP– Com tanta dedicação e estudo ao longo da carreira, sobrou e sobra tempo para o lazer e a família? O senhor faria tudo de novo?

Celso BEDIN– No começo da carreira trabalhava nos finais de semana. Depois, percebi que estava me prejudicando. Notei por exemplo que dos amigos que haviam sofrido, enfarto do miocárdio tinham uma característica em comum não tiravam férias! Tomei a decisão de não “vender” férias e não permitir que o trabalho prejudicasse minha vida com a família. Dedico os finais de semana e os feriados ao lazer. Coisa bem simples, como ir à praia ou pescar no sítio. Claro que gosto de viajar para bem longe, mas as condições financeiras nem sempre permitem. Não tenho dúvida de que faria tudo de novo.

AJUFESP – Quais os planos para o futuro?

Celso BEDIN– O futuro a Deus pertence. Confio no meu destino. Hoje penso apenas no Tabelião de Protesto de Santos, mas se no futuro não for possível ganhar alguns trocados neste serviço, não terei dúvida em mudar de profissão.

Observação do administrador do blog
:
Celso BEDIN pertence a família da primeira história do blog WWW.familia.bedin.blogspot.com.br  e é neto de Bonaventura e Maria BEDIN







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