30 de março de 2014

Postagem 072
HISTÓRIA  DA  ITÁLIA

PARTE DO LIVRO
HISTÓRIA ESQUECIDA – A EMIGRAÇÃO ITALIANA: O MAIOR ÊXODO DE UM 

POVO NA HISTÓRIA MODERNA

AUTOR: DELISO VILLA






Um país antigo e imóvel castigado por males terríveis

Em 1861 a Itália dava seus primeiros passos. Era uma Itália ainda pequena, desconexa e pobre.
O jovem Reino acabara de ser proclamado. Roma ainda não era capital. Cavour, acometido de malária, falecera aos 6 de junho do mesmo ano.
Reinos e grã-ducados diluíam a duras penas suas fronteiras dentro de um Estado-mais vasto e complexo. Surgiam as primeiras indústrias;  as primeiras ferrovias procuravam encurtar as distâncias  entre o Norte e o Sul.
Em 1876, o ministro Minghetti anunciara ao Parlamento que, depois de durrissímos anos de economia, “finalmente tinha sido alcançado o equilíbrio da balança”. Para alcançar essa meta, o Estado italiano vendera tudo o que pudera vender: bens estatais e eclesiásticos, linhas ferroviárias, a Regia dei Tabacchi. E esmagara o povo com impostos desumanos.
A jovem Itália encontrava-se diante de imensos problemas, dentre os quais destacavam-se os governantes ainda inexperientes e a própria falta de uma tradição que sustentasse aquele Estado novo. Muitíssimas eram também, as obras por fazer: escolas, estradas, hospitais, aquedutos, saneamento. E ainda: harmonizar sete exércitos, sete línguas, sete moedas, sete regulamentes alfandegários, sete modos diverso de se ver e se aplicar a justiça...
A malária ainda matava 40.000 pessoas por ano (também Cavour morrera de malária);  a pelagra, 100.000. O cólera, sòmente entre 1884-87, matara 55.000 pessoas. As estatísticas oficiais falam de cerca de 400.000 mortos por ano. Metade daquelas cifras era formada por pequenas cruzes  brancas , que representavam crianças com menos de cinco anos, as quais acabaram nos cemitérios porque a comida era escassa, a higiene escassíssima o médico, Inalcançável.
Entre os 3.672 mineiros de enxofre sicilianos submetidos a uma avaliação  médica ( nas minas de enxofre trabalhavam também centenas de rapazes muito jovens), apenas 203 foram declarados  aptos ao serviço militar. O resto era gente destruída, que devia ser jogada fora.
No momento da unificação, a Itália tinha menos de 400.000 operários . Havia poucas fábricas; o trabalho era feito, de preferência, em casa, segundo um antigo costume artesanal que, ainda hoje, está vivo em muitas regiões italianas.
Roma possuía apenas 180.000 habitantes ; Milão. 240.000; Turim; 200.00, Gênova, 150.000; Palermo, 180.000. Nápoles, já naquela época extraordinária e miserável, era segunda cidade da Europa: sua população chegava a 430.000 habitantes.
Em 1864, A Itália era, pois, um país em grande parte agreste, antigo e imóvel. De aproximadamente 22 milhões de habitantes, pelo menos 16 milhões eram camponeses, Moviam-se nos campos o gesto lento dos antepassados: tanto na Sicília quanto no Vêneto, muitos ainda utilizavam um arado muito rudimentar, o mesmo que Cincinato, 2.000 anos antes, havia utilizado.
A grande massa populacional dos italianos nascia, vivia e morria num mesmo lugar, à sombra de um mesmo campanário, ligada a pequenos  costumes, a tradições ancestrais, a duras  privações, a raras festas animadas. Numa Europa onde a Inglaterra já havia feito sua revolução industrial e onde a França e a Alemanha levavam adiante, em etapas aceleradas, a formação de um aparato industrial, a Itália surgia como “um país de miseráveis analfabetos”, cuja renda correspondia a uma quarta parte da renda inglesa e a um terço da francesa. Um país tão forte, tão desprovido de ferro e carvão, que os franceses se perguntavam, com uma ponta de ironia “ O que quer fazer da Itália?”
Também no setor agrícola a Itália estava  atrasada. Apenas o Piemonte, graças a Cavour, havia-se aproximado do nível europeu: as novas classes empreendedoras  eram o verdadeiro protagonista do desenvolvimento econômico da região. Na planície do Rio Pó,do mesmo modo, despontava, aqui e ali,  capitalismo agrário  evoluído. As empresas agrícolas estavam nas mãos de grandes locatários que as conduziam através do plantio de arroz e de pastagens, integrando-as com a criação de animais e com produção de derivados do leite. Serão estes arrendatários que transformarão em empreendedores: serão eles a constituir na Itália, as primeiras fábricas. A transformação do arrendatário da planície do Pó em empreendedor marca o nascimento do capitalismo italiano  e a  entrada da Itália na era industrial.
No entanto, também na Lombardia  havia muita miséria. No campo, ao lado dos cavallanti (aqueles que conduziam os bois), dos fattutto (disponíveis para qualquer trabalho), dos omen de fer (ceifeiros), moviam-se muitos gionalieri.Estes últimos – está escrito num documentos – “dispõem de um salário mesquinho, de uma comida miserável e de uma acomodação, esquálida. Trazem estampada a pobreza nas face franzinas  e provocam arrepios nas almas bem-nascidas”. Estes gionalieri encontrava-se às portas de Milão, a rica, culta e benéfica capital lombarda. E era os mais pobres agricultores da Lombardia.
Igualmente na Itália central, sobretudo na Toscana, o panorama agrícola apresentava elementos positivos. Prevalecia a parceria agrícola, à qual os proprietários de terra haviam-se mantido fieis por razões  predominantemente sociais. A parceria, de fato, condenava à imobilidade, mas, ao mesmo tempo, assegurava a tranquilidade num momento no qual os agricultores começavam a se rebelar. Contrariamente à Lombardia, a Toscana não assistirá à passagem do senhor de terras ao senhor de chaminés.
Não precisamos inventar nada  para descrever a vida dos italianos naqueles anos difíceis. Temos de fato, à disposição, uma impressionante Inchiesta agrária, a primeira solicitada pelo  jovem Parlamento italiano. Sete anos de trabalho custou essa pesquisa, cuja documentação está reunida em 15 volumes, que chegaram às mãos dos italiano exatamente naqueles anos, de 1881 1886. O inquérito, dirigido por Jacini (um católico moderado, várias vezes ministro, que se fez conde por ter se empenhado na realização do túnel do Simplon), oferece-nos um retrato preciso, região a região, das condições  de vida da maior parte dos italianos.
Uma vida austera, de necessidades, em que o dinheiro para remédios falta e as roupas exibem sucessivos remendos ,em que doentes são estendidos na manjedoura e o porco cresce em casa como membro da família. Vender os filhos é um hábito bastante  difuso, tanto no Norte como no Sul. Em Altamura, na região da Puglia, todos os anos, na ocasião de Ferragosto, os meninos são colocados à venda em praça pública, como se fossem uma mercadoria qualquer.
Centenas de ,milhares de italianos vivem ainda em grutas ou em cabanas sem janelas, feitas de ramos  e barro.Dezenas de milhares de famílias vivem ainda em condições alucinantes nos úmidos bassi de Nápoles, nos sassi de Matera escavados na rocha, nos bairros operários das cidades. Segundo dados de 1879, há nesses locais, frequentemente, uma densidade populacional de dez pessoas por cômodo.
“Na mesa do componês setentrional, - lê-se num relatório – a carne aparece não mais do que uma vez por mês; nas tarimbas dos cavoni do sul, não mais de uma vez por ano. Os camponeses do Norte alimentam-se exclusivamente  de milho porque custa menos e sacia mais. Os trabalhadores rurais da Puglia comem quase exclusivamente pão preto de cevada, preparado duas ou três vezes por ano.”
E, no entanto, também sobre este pedaço de pão, escasso e duro como pedra, havia sido imposto uma taxa, a famigerada tassa  sul macinato. Por causa dessa taxa, nasceram sanguinosas revoltas na Sicília e ao longo do Rio Pó.
Em fevereiro de 1874, em Nápoles , um trabalhador  rural que se preparava para embarcar  num navio foi maltratado por um funcionário. Irritado  , o homem pegou da sacola de viagem a primeira coisa que foi parar  em suas mãos e arremessou-a com força contra a guarda. Era um pedaço de pão preto.O homem foi preso e condenado a dois meses de cárcere. Havia ofendido um oficial público.
Nota do administrador do blog: Embora esta postagem não tenha diretamente nada haver com os Bedin’s , indiretamente tem muito a haver, pois a maioria de nós descende de algum imigrante que veio da Itália. E esta postagem mostra bem como viviam os nossos ascendentes, para os quais devemos em nossas orações lembrar deles, pois com os seus esforços e dos que vieram posteriormente hoje a família BEDIN  pelo conhecimento que temos, vivi melhor  em todos os lugares do mundo.



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