14 de dezembro de 2015

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CURIOSIDADE

HISTÓRIA DOS CTGs

HISTÓRIA DOS CTGs 

Luiz Antônio Alves

A região da serra gaúcha, conhecida pela participação desenvolvimentista da imigração italiana apresenta características históricas que apontam para um novo caminho de análise sobre nossa gente. É a combinação de várias etnias gerando uma multiplicidade e diversidade cultural que proporciona casamentos entre famílias de descendentes de italianos, germanos, português-açorianos, índios, negros, mestiços e pelo-duros. Nesta fusão surge, então, uma nova etnia?
Esta matriz sugere várias interpretações de cunho antropológico e sociológico. Para o design projetado para segmentos específicos da população surgem teses, idéias e opiniões sobre o “aculturamento” dos “ítalo-brasileiros” ao movimento tradicionalista gaúcho.
Alguns cientistas-sociais apontam para a emblemática (simbólica, curiosa ou indecifrável?) participação dos descendentes de “italianos” nos Centros de Tradições ou outras atividades que estão ligadas à vida campeira. Caxias do Sul, por exemplo, é considerada a capital mundial dos CTGs, em quantidade. Mais de uma centena de entidades do gênero são cadastradas como membros da 25ª Região Tradicionalista e, nelas, a maioria da patronagem (diretoria) são compostas justamente por pessoas que carregam nomes e sobrenomes originários da Itália.
Concordo em parte com esta visão superficial sobre o assunto. Para mim, não é tanto emblemático, do ponto de vista do enigma... (muitas pessoas confundem o adjetivo por uma indagação, dúvida). Vários são os motivos para esta motivação dos “gringos” nestas atividades consideradas patrimônio dos gaúchos de todas as querências... Alguns podem ser - de pronto-  analisados.
Em primeiro lugar, conhecer a História do Município de Caxias do Sul. E uma particularidade se destaca. Houve aqui o encontro de duas culturas diferentes. Aquela que chegou entre as grandes levas de imigrantes em 1875; outra, que já estava aqui pelo menos desde 1760. Ou seja, cerca de 60% do atual território de Caxias pertencia antigamente a São Francisco de Paula que era uma região “serrana” de campos. Seu povoamento a partir da metade do século XVIII recebeu uma população Tropeira dedicada à pecuária, originária de vários Estados do Brasil (São Paulo, Paraná e Santa Catarina) e do Arquipélago dos Açores. Neste tópico encontram-se duas fronteiras: a cultural e a geográfica.
A partir de áreas anexadas e que anteriormente faziam parte ao Município mais antigo, surgiram os distritos caxienses de Vila Seca, Vila Oliva, Fazenda Souza, Criúva e parte de Santa Lúcia do Piai. Algumas características culturais permaneceram nessas áreas que a imigração não conseguiu eliminar totalmente nestes últimos 135 anos.
Assim, uma segunda hipótese ganha força: as múltiplas relações familiares havidas entre as duas culturas. O casamento “interétnico” aconteceu de forma significativa. E, em princípio, a cultura dominante repassada foi àquela ligada a lida do campo que era mais antiga. Um dos exemplos que sempre apresento é em relação à dupla de gaiteiros “Os Irmãos Bertussi”. Eles são descendentes de imigrantes italianos pelo lado paterno e incorporaram as raízes maternas (a mãe, Jovelina Medeiros de Siqueira, descendente e herdeira de famílias brasileiras antigas).
À medida que os “italianos” foram se espalhando pela zona de campo, agregaram um modo de vida diferente daquelas famílias que permaneceram na colônia ou na zona urbana da metrópole maior.
Portanto, não é tão emblemático o dado apontado pelas pesquisas sobre a origem “étnica” de muitas pessoas que participam na vida dos CTGs. Nos bailes, rodeios, concursos de dança e música e lista de componentes que fazem parte das entidades vêem-se claramente a presença dos “ítalo-gaúchos”.
Note-se que houve também um processo de êxodo rural a partir de 1940 que levou para a sede municipal (centro urbano) milhares de famílias que já estavam “misturadas” ou que casavam com aquelas que tinham permanecido na cidade. E o desejo de permanecer com vínculos a terra, ou raízes (novas ou antigas) apontaram para o caminho do tradicionalismo. Alguns privilegiaram o lazer participando da vida nos CTGs e outros mesclando o moderno com o antigo.
Assim sendo, com o tempo, diversos profissionais foram abraçando a causa, oriundos das áreas de advocacia, medicina, economia, metalurgia, comércio, robótica, psicologia, empresários, operários, etc. Até mesmo os conhecidos praticantes de “skate”, aos finais de semana, trocam a indumentária do boné e bermuda por uma pilcha; ou uma “top model” que participa de invernadas artísticas ou piquetes de cavalarianos. Enfim, não são apenas homens e mulheres do campo, com atividades específicas de criação de gado participam deste “mundo gaudério”. Os viventes que moram e trabalham nas cidades de pedra encontram momentos de prazer e felicidade também nos CTGs.
No início da década de 1980 realizei um pequeno ensaio sobre a temática. Nela relacionei a história dos CTGs e o número de “descendentes de imigrantes” compondo a direção das entidades da região.
Nesta primeira abordagem apresento alguns sobrenomes bem italianos, identificados, inclusive, na fundação de Centros de Tradições. Existem os que ainda estão em atividade e outros extintos ou alterando denominações. No caso, amplio a abrangência para toda a região conhecida como “serra gaúcha”.
Aliás, muitas denominações de CTGs adotam o termo “Imigrante”, como se vê na amostragem abaixo.


BACHI – do CTG Ginetes da Tradição, de Ana Rech, Caxias do Sul. Eduardo Bachi e Dalmira Mazzochi Bachi foram patrão e patroa do CTG. Suas filhas Taís e Cristine foram, respectivamente, 1ª Prenda Mirim (1987-1988) e Prenda Maria Prendada (1985).
BENETTI – CTG Pampas do Imigrante. Nilo Lourenço Benetti (filho de Attilio Aquiles Benetti e Lina Buzz Benetti), com sua família seguiu os passos do tradicionalismo.
BERTUSSI – CTG Pousada dos Tropeiros, Criúva, distrito de Caxias do Sul. Adelar Bertussi (filho de Fioravante Bertussi e Juvelina Medeiros de Siqueira) com sua 1ª esposa Ledy Schmith Bertussi Siqueira fundou com outros 30 amigos a entidade a 23 de maio de 1971. Entre várias famílias da região, destaca-se como Patrão Espiritual, o Padre Pedro Rizzon e o Vice-patrão, Darcy Romani. Participaram, desde o seu início, Nery Vacchi e Gastoni Festugato. Destaque-se de que Criúva, antes da anexação a Caxias em 1954, pertencia a São Francisco de Paula.
BOFF- do CTG Imigrantes da Tradição, de Ana Rech, Caxias do Sul. Débora Boff de Barros, filha Antônio Glênio Barros e de Maria Luiza Boff de Barros (filha de Luiz Boff e Maria Horacina Castilhos Boff). Foi 1ª Prenda Adulta da 25ª RT. Aqui, uma das muitas fusões “étnicas” entre imigrantes italianos e serranos antigos.
BONIATTI – CTG Laço Italiano, de Nova Pádua. Quem teve a idéia de fundar a entidade foi Remi Boniatti (filho de Mário Benedetto Boniati e Adélia Bedin Boniatti), casado com Geni Scortegagna Boniatti que também participou ativamente nas atividades do CTG a partir de 1985.
CALERA – CTG Rancho dos Gaudérios, Farroupilha. Irvama Calera (filha de Amauri Calera e Neiva Maria Butelli Calera) foi 1º Prenda Mirim desse CTG. Seguiu os passos dos pais que cursavam dança de salão no Clube do Comércio, que na época, 1985, sediava a entidade tradicionalista.
COMANDULLI – CTG Rincão da Lealdade, de Caxias do Sul. João Luiz Comandulli (filho de Ivo Reno Comandulli e Nady Timmers) com sua esposa Véra Regina Marques Regal (filha de José Ferreira Regal e Maria Heronida Marques), por muito tempo, esteve à frente do CTG mais tradicional e antigo da cidade.
D’AGOSTINI – do CTG Alvorada Gaúcha, de Bento Gonçalves. Taís D’Agostini, filha de Alécio Euclides D’Agostini e Ieda Maria Sperotto D’Agostini, foi Prenda Simpatia em 1990.
DALLA SANTA – CTG Rodeio Minuano e CTG Joaquim Pedro Lisboa. Jeferson Schonardie Dalla Santa (filho de Valentin Dalla Santa e Maria Oneide Schonardie Dalla Santa) se destacou na infância e juventude por participar em concursos musicais e fazendo vocal para invernadas artísticas.
DANELUZ – do Piquete de Laçadores Os Veteranos de Fazenda Souza. Um dos fundadores do grupo foi Idalino Daneluz (filho de Silvano Daneluz e Tereza Viganó Daneluz), casado com Oliva Bonatto Daneluz. O Piquete foi fundado em 1969 e foi dirigido inicialmente como Patrão, Idalino Daneluz. Posteriormente dirigido por Silvano Daneluz e o Sota-capataz, Adelar Rech.
FACHIN – do CTG Laço Velho, de Bento Gonçalves. Jolusa Fachin, filha de Roni Luiz Fachin e Clarisse Carmem Angheben Fachin, foi 1ª Prenda Mirim, em 1988;
FAGHERAZZI – CTG Rancho dos Gaudério, de Farroupilha. Daiane Fagherazzi (filha de Vitor Fagherazzi e Riciene Peccin Fagherazzi) foi 1ª Prenda Juvenil do CTG e 3ª Prenda da 25ª RT. Fez parte da Invernada Juvenil.
FELTRIN – CTG Ronda Charrua, Farroupilha. Viviane Feltrin (filha de Nestor Feltrin e Elaine Feltrin) foi 1ª Prenda da 25ª RT. Com seu irmão Luís Gustavo passaram a participar do CTG a partir de 1988.
GOBETTI – CTG Sentinela da Querência, de Vacaria. Ilário Gobetti (filho de Gentil Gobetti Minuzzo e Irene Scarabotto), casado com Rose Terezinha Martins Gobetti. Este casal desempenhou atividades com as invernadas artísticas. Seus filhos Juliano e Emerson também fizeram parte da Invernada Mirim.
INDICATTI – CTG Ginetes da Tradição, Ana Rech, Caxias do Sul. Rejane Fátima Indicatti Laurindo e seu marido José Evoney Laurindo, foram da primeira patronagem. Ela é filha de Honorino Indicatti e Gentila Mazzochi Indicatti e ele, filho de Volnei Laurindo e Vorci Merchel. Esta é mais uma combinação entre famílias de Cazuza Ferreira (campo) e Ana Rech (colônia).
LIZOT – CTG Aconchego Gaúcho, de Nova Roma do Sul. Giordano Lizot (filho de Fulcio Lizot e Filomena Cassal Lizot), em 1991, foi escolhido como Patrão e sua esposa, patroa Pierina Turquetto Lizot. Esse Município também é considerado um dos berços da imigração italiana e fica próxima a região dos Campos da Vacaria. Na prática, quase toda a direção é formada por descendentes de imigrantes: Pedro De Dea, Romeu Lorenzetti, Edelcir Smor, Albino Bet, Wilson Lizot, Celso Volpatto, Augusto Dallo, Abramo Zanco, Henrique Vanzetto e Henrique Panazzolo. O patrão anterior era Gilberto Tamanini e outros fundadores foram Agostinho Pasuch (filho de Carlos Pasuch e Inês Trescci), Albino Bet (filho de Francisco Bet e Joana Levis Bet) e Augusto José Dalló (filho de Antônio Dalló e Amábile Ceron Dalló).
MASSONI – CTG Laço Italiano. Sirlei Sonda Massoni (filha de Nilo Sonda e Nair Dalla Valle Sonda) foi 1ª Prenda dessa entidade em 1986. Depois casou com outro tradicionalista, Flávio Antônio Massoni.
PALAORO – CTG Sentinela da Querência, de Vacaria. Armando Palaoro (filho de Marcos Aníbal Palaoro e Adelaide Tomasi Palaoro) foi patrão no biênio 1986/1986. Em 1985 foi escolhido Coordenador da 8ª Região Tradicionalista.
PARAVISI – CTG Imigrantes da Tradição. Shirlei de Barros Paravisi (filha de Nestor Paravisi e Bernardete de Barros Paravisi) foi 1ª Prenda Juvenil do Rio Grande do Sul no biênio 1990-1991. Seu pai, descendente de italianos e sua mãe de família antiga de cima da serra.
PERIN – CTG Ginetes da Tradição. Margarete Perin (filha de Darci Perin e Odila Andreola Perin), 1ª Prenda da entidade. Participou da invernada adulta tendo seu grupo representando o folclore gaúcho na cidade paulista de São Carlos.
RIGON – CTG Porteira do Rio Grande, de Vacaria. Eldir Rigon Filho (filho de Eldir Rigon e Fátima Peixoto Rigon), ativo da Invernada Campeira do Piquete de Laçadores Crioulos da Chapada, filiado ao CTG Porteira do Rio Grande. Filho de descendente de imigrante italiano com descendente de famílias antigas do planalto vacariano. O filho Diego sempre se destacou como laçador, inclusive em competição na cidade paulista de Itapetininga.
VIVAN – CTG Porteira da Serra, de São Marcos. Giovana Maria Vivan foi a 1ª Prenda Adulta. Esta entidade foi fundada a 6 de Outubro de 1968. Por muito tempo algumas famílias descendentes de imigrantes participaram de todas as atividades e entre elas: Rizzon, Molon, Vanaz, Cioato, Bertelli, Scodro, Gobbi, Martininghi e Biazus.
ZAMBAN – CTG Sentinela da Querência de Vacaria. Ernesto Zamban (filho de Pedro Zamban e Ana Amábile Boldo Zamban), patrão de honra. ZAMBON – CTG Velho Carreteiro. Neste exemplo mais uma combinação étnica. Luciano Zambon da Silveira (filho de Odácio Crispim da Silveira e Ornela Zambon da Silveira) laçador com vários troféus que entrou na Invernada Campeira.
ZAPPAROLI – Piquete de Laçadores Sinuelo do Pampa, ligado ao CTG de mesmo nome, de Caxias do Sul.  Orlando Pedro Zaparoli (filho de Ernesto Zapparoli e Josefina Rech Zapparoli) agropecuarista e nascido na localidade de Ana Rech. Seus filos seguiram o rumo dos eventos campeiros.
ZIGNANI – CTG Sinuelo do Pampa, de Ana Rech. José Luiz Zignani (filho de Augusto Zignani e Adelina Zignani) criador de gado e que atuou no ramo avícola, conhece, segundo ele, os usos e costumes de nossa gente gaúcha.

Esta amostragem é apenas um recorte de um todo. Em princípio, está comprovado o ditado popular que “o ente faz o ambiente”. Ou seja, as adaptações dos grupos sociais à natureza e ao meio de vida, de subsistência com trabalho originado no meio rural, facilitaram o ingresso ao movimento tradicionalista.

NOTA: contribuições, correções, comentários, enviar para

Luiz Antônio Alves
tonybel@uol.com.br
www.fuj.com.br

“toda esta gente é
gaúcha-brasileira!”

Pesquisa:Internet enviada por Ingrid Bedin

Observação do Blog. Nesta postagem não tem nenhum BEDIN, mas estamos colocando no blog, por ser importante e  interessante para todos os imigrantes Italianos.


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