16 de outubro de 2023

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BEDIN V.I.P.

ANDRÉ BEDIN PIRAJÁ

André BEDIN Pirajá
Especialista em Processo Civil e Direito Empresarial. Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Advogado e pesquisador nas áreas de Direito Civil e Empresarial

Preço da carne diminui no Brasil, mas governo atual não é o responsável; entenda


Rhuan C. Soletti
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15 de Setembro de 2023 às 15:29
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Ciclo pecuário, a maior oferta de carne bovina, as boas safras de soja e milho e o papel dos frigoríficos na manipulação dos preços. Vários são os fatores que influenciam no preço da carne. Entenda por que essa queda não tem nada a ver com o governo atual

O Brasil tem testemunhado uma redução consistente nos preços das carnes ao longo de 2023, mas a reviravolta nos preços não está ligada diretamente ao governo vigente. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o acumulado do ano até agosto registrou uma média de queda de 9,65%.

Todos os cortes de carne monitorados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentaram diminuições significativas, com o filé mignon liderando o caminho, registrando uma impressionante queda de 16,95%. A alcatra vem em seguida, com uma queda de 13,46%; e o contrafilé, com uma redução de 11,77%.

Em comparação com outras fontes de proteína animal, o frango em pedaços teve uma redução de 11,69%, enquanto o frango inteiro apresentou uma queda de 9,79%. A carne de porco também registrou uma diminuição de 4,65%. No entanto, os ovos de galinha se destacaram, com um aumento de 12,94% nos preços até agosto, enquanto os pescados subiram 3,12%.

A perspectiva é de que essa tendência de queda nos preços das carnes continue nos próximos meses, embora os preços ainda não tenham retornado aos níveis anteriores à inflação de alimentos que começou em 2020. Considerando a queda, este ano pode finalmente marcar o fim de três anos consecutivos de altas nos preços dos alimentos em domicílio.

É importante notar que o governo não desempenhou um papel direto na redução dos preços. Embora as perspectivas para o primeiro ano do terceiro mandato do presidente empossado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenham sido positivas – já que a "transpicanha" era uma promessa – a diminuição nos preços das carnes não está relacionada a políticas voltadas para o agronegócio. A economia pode influenciar o consumo, mas não houve um estímulo direto à produção.


Por que os preços estão caindo?


O mercado de carnes no Brasil é caracterizado por um ciclo de oferta bem definido, conforme explicado pelo nosso colunista, apresentador e advogado André BEDIN Pirajá. Mas por que os preços das carnes estão caindo em 2023? Segundo Pirajá, essa é uma consequência natural do ciclo pecuário, um fenômeno que envolve flutuações nos preços do gado e da carne, com fases de alta e baixa que se repetem periodicamente.

"No ciclo pecuário nós tivemos, em 2021, uma grande oferta: seguraram o maior número de fêmeas, aumentou o número de bezerros e esse bezerro naturalmente cresce para ser abatido. O bezerro não é o fim, é uma das etapas. Nós vivenciamos, em 2022 e 2023, o reflexo desse aumento de bezerros e aumento da cria de fêmeas de 2021", explica o advogado.

Os produtores aproveitaram o aumento dos preços de bezerros e gado em 2022 para expandir a produção, o que temporariamente reduziu o abate de fêmeas. Isso aumentou a disponibilidade de carne no mercado interno. No entanto, essa maior oferta coincidiu com uma diminuição na capacidade financeira das famílias, levando a um menor consumo de carne bovina. Deste modo, a disponibilidade de carne no mercado interno aumentou.

“Isso faz com que aumente a oferta de bovinos gordos. Quando nós tivemos esse aumento de oferta de bovinos gordos automaticamente nós enfrentamos uma falta de capacidade financeira no mercado. Logo, nós experimentamos, considerando também os reflexos da pandemia, entre outras coisas, uma redução na capacidade financeira das famílias, o que ocasionou no menor consumo de carne bovina dos últimos tempos”, continua o apresentador.

Contudo, em 2023, os criadores retomaram o abate de fêmeas, aumentando ainda mais a oferta de carne bovina. Em Mato Grosso, o maior produtor de carne bovina do país, o abate de fêmeas aumentou significativamente no primeiro semestre, se comparado à média dos últimos dez anos. Pelo menos 1,44 milhão de fêmeas foram para o abate no primeiro semestre, 20% a mais do que a média no mesmo período nos últimos dez anos.

A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) tem pressionado o governo estadual desde janeiro por uma redução na taxa de abate das fêmeas, que, apesar de mais leves e desvalorizadas, possuem o mesmo valor dos machos. Essa medida, segundo eles, seria justa e lógica, ajudando a aliviar o setor produtivo.

Segundo o presidente da Acrimat, Oswaldo Ribeiro Junior, desde janeiro deste ano a redução da taxa de abate das fêmeas, cujo valor, apesar de mais leves e mais desvalorizadas, é exatamente a mesma dos machos. “Uma medida lógica, justa e legal seria esse ajuste. As taxas de abate também não trabalham com a oscilação do mercado, não flutuam conforme os preços, pelo contrário são reajustadas de acordo com a inflação, aumentando cada vez mais o buraco no setor produtivo”, diz.

Retorna o especialista André Pirajá: "Nós tivemos no Brasil, por incrível que pareça, uma redução no consumo de carne em razão da menor capacidade financeira. Então, existem dois pontos para se atentar: temos menor capacidade financeira das famílias e, ao mesmo tempo, temos uma maior oferta de proteína animal disponível, carne bovina. Logo, essa situação faz com que o varejo, os frigoríficos, aproveite este momento para recompor a sua margem."

Contudo, existe outro fator de grande relevância no poder de manipulação de preço: os frigoríficos. Segundo Pirajá, "os frigoríficos, mesmo que poucos, são um oligopólio. Eles controlam a capacidade de abate e de venda desses produtos. Com esse poder, eles não precisam seguir necessariamente uma regra de mercado, já que eles conseguem manipular as suas escalas de abate", disse.

A venda da carne bovina depende estritamente do abate realizado pelos frigoríficos, dando ao "oligopólio" a possibilidade de certa manipulação. "Eles recompõem a sua margem, que em outros tempos poderia ser um pouco menor, mas com uma arroba um mais alta", continua o especialista.

"Sendo assim, quem controla o preço da carne bovina no supermercado não é só a regra econômica. É também o oligopólio, os campeões nacionais. Agora, some isso à oferta e demanda dos animais, ao ciclo pecuário da maior oferta de proteína animal. Essa disponibilidade abre portas aos frigoríficos para fazerem um maior controle de preço, que ecoa no varejo", conclui o apresentador.

A boa safra de soja e milho também contribuiu para a redução de preços das carnes, pois esses grãos são usados na alimentação de frangos e suínos. Enquanto isso, as pastagens, principal fonte de alimento para o gado, têm sido beneficiadas por chuvas regulares.

Em resumo, os preços em queda das carnes no Brasil em 2023 são resultado de uma combinação de fatores, incluindo o ciclo pecuário, a maior oferta de carne bovina, as boas safras de soja e milho e o papel dos frigoríficos na manipulação dos preços.


Pesquisa:Internet


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