11 de abril de 2014

Postagem 078
BEDIN V.I.P

NELSON BEDIN





A SAÚDE, A DOENÇA E O SISTEMA

O   que é estar com saúde? É um estado físico constatável por métodos laboratoriais e aparelhos mensuradores? Ou será que é um estado de espírito? Vejamos um exemplo: se eu tenho 40 anos, estou acima do peso tido como ideal, mas me sinto bem, produzo muito bem meu trabalho, sou calmo, sou cortês, relaciono-me bem com as pessoas, mas descobri em meu exame anual na empresa, que estou com a pressão arterial acima  do nível do limite, deixei de estar com saúde? Entrei, então, para o rol dos doentes?Passarei à frequentar os consultórios ( e ouvirei ladainhas intermináveis e repreensões com profecias catastróficas),l passarei a frequenta laboratórios para realizar exames e mais exames? Assumo, enfim, a personalidade do sujeito doente. A doença começa a tomar o lugar que antes era ocupado pelo comentário maldoso sobre aquele “infeliz”zagueiro do Santos F.C. ou pela última fofoca da não última desavença da diva Vera Fisher. Começo a falar com amigos sobre sinais e sintomas que antes faziam parte do folclores de outros, e que me pareciam tão pouco originais, tão pouco edificantes. Se eu não tivesse medido a pressão naquele dia? Não teria sabido que era um doente? Talvez não começassem tão cedo os sintomas! Certamente não teria iniciado a via sacra...

Vejamos um outro exemplo: uma senhora, mãe de cinco filhos, também por volta dos 40 anos. Quanto grávida, fez pré-natal e não apresentou problemas durante a gestação. Os partos foram normais e as crianças estão bem e felizes. Não apresenta sinais de que sua menopausa está se aproximando. Tudo vai muito bem; consciente que é, faz seu exame de prevenção de câncer de colo uterino. Surpresa! E quê má surpresa : seu exame deu resultado positivo. E agora? Continua se achando com saúde, ou assume que é uma pessoa doente? Passemos agora para um lado mais obscuro de nossa sociedade. Miremos para um caso comum; um jovem casal, recém chegado de uma região pobre do  nordeste, vem procurar solução para seus dramas em São Paulo. Junto trazem um filho de 9 meses. Essa criaturinha vive com febre, tem episódios frequentes  de diarreia e não aumenta o peso como deveria. Ah! Esse é mesmo um ser doente! Seus jovens pais, embora leigos, desconfiam (e muito) que a criança fica doente porque não se alimenta como deveria, e porque não vive no melhor dos mundos, sentem-se até mesmo culpados pela situação! Juntemos os três casos:  o “hipertenso”, a  “portadora de câncer” e a “criança com infecções repetidas”. O que eles têm em comum? E o que o Sistema de Saúde tem a ver com isso? O primeiro ficou hipertenso e só percebeu em um exame de rotina. Sua “sorte” (ou seu “azar”) é que, por condições sociais, há uma rotina para ele. O diagnóstico foi feito. A “portadora de câncer”, embora tenha acesso frequente aos  serviços de saúde, em que uma rotina que ela traçou para si mesma, descobriu sua doença. A criançinha tem outra rotina: correr ao Pronto-Socorro e voltar para o mesmo ambiente que a contamina repetidamente. O que o  Sistema de Saúde tem a ver com isso? Sabemos e assumimos que o Sistema de Atenção à Saúde (muito mais atenção à doença do que à saúde, infelizmente) tem a participação pequena no destino desses três casos narrados. Mas esta pequena parcela é importantíssima. É fácil perceber que o hipertenso passará a ser um “dependente” do sistema. Controlando sua pressão, evitará as consequências danosas do elevado nível pressórico. Não enfartará, não terá o temível derrame. Não ficará inválido. A portadora do câncer irá submeter-se a uma cirurgia e ficará fazendo controles indefinidamente O Sistema de Saúde lhe será imprescindível. A criancinha, é claro, será salva, temporariamente, também infinitas  vezes. E o Sistema de Saúde não pode falhar!

Façamos, agora, um último exercício de compreensão da realidade. Quais as falhas que esse mesmo sistema cometeu “em algum lugar do passado”, com reflexo nessas três vidas? Seu pecado maior foi a omissão (lembra-se, caro leitor, que os pecados eram divididos em “por ação” e por “por omissão”?, ou você fugiu do catecismo?). Omitiu-se ao não conscientizar o primeiro personagem sobre não engordar, sair do sedentarismo, alimentar-se corretamente. Sua forma (do sistema) passiva e também sedentária de esperar sentado que as pessoas adoeçam e o procure foi o seu peado capital. Esqueceu-se de seu papel educativo. Omitiu-se em sua missão de formador de opinião, de influenciador de políticas adequadas para o setor saúde, de gerador de proposta para aprovação de leis para favorecer as pessoas em detrimento do lucro não social. Não lutou o suficiente contra a ganância de inescrupulosos” barões” produtores de remédios, que lucram com a doença, com os doentes, com a tragédia. Assim, contribui para o prejuízo social e coletivo. Tem que se redimir! Sua omissão,quanto a segunda, também se prende ao aspecto da promoção e da prevenção; embora tivesse dado condições para que ela frequentasse os serviços, não conseguiu conscientizar o casal sobre formas ideais de relacionamento, não conseguiu,  provavelmente, afastar o HPV, fatídico vírus que se associou ao câncer. A última omissão, talvez, seja a mais cruel. Achou que estava cumprindo o seu papel de diagnosticar  e tratar cada episódio de broncopneumonia que nossa criancinha apresentou. Não achou que era problema seu o fato de os jovens pais não terem condições de alimentar corretamente seu rebento. Não considerou sua função de elaborar, em conjunto com os demais setores (Habitação, Promoção Social, meio Ambiente, Obras, Educação), políticas ambientais, programas de intervenção no ambiente (saneamento básico), por exemplo), que transformassem a realidade. Nem sequer considerou ser sua alçada saber se esses pais poderiam aumentar sua escolaridade, receber seus benefícios já previstos em lei, inscrever-se nos programas de inserção de desempregados. Assumiu a atitude passiva de apenas diagnosticar e “tratar”( com todas  as aspas que o termo merece). E devolveu nossa criaturinha para o mesmo bicho-papão que sempre esteve pronto para devorá-la. Matar o bicho-papão, nem pensar! Não podemos continuar pecando! É chegada a hora de o Sistema redimir-se. A penitência que lhe cabe é o compromisso de recitar 100 orações para a prevenção aos agravos à saúde para cada uma das orações curativas que executar (e executar bem, para não voltar a pecar). Se assim o fizer, será perdoado e glorificado. E, como o povo brasileiro é benevolente, os pecados cometidos ao longo de todos esses anos também  serão perdoados e olvidados. Estaremos, então, construindo o verdadeiro mundo saudável . Engaje-se nesta luta !  Vale a pena !.

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Observação do administrador do blog: Dr. Nelson BEDIN, pertence a família da 1ª história do blog , neto de Bonaventura e Maria BEDIN.

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