19 de setembro de 2014

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                             BEDIN V.I.P

Fábio Pasqualotto
 e Eleonora BEDIN Pasqualotto

Fabio e Eleonora alertam para a necessidade de uma avaliação do casal antes que as dificuldades aumentem

|NOI| Apesar de já fazerem mais de duas décadas do nascimento do primeiro bebê de proveta, ainda existem alguns tabus e receios entre casais sobre este método de reprodução. E quando se deparam com a necessidade de doação de óvulo ou esperma - ou ambos, os temores aumentam. Medo de que o bebê não os reconheça como pais, medo de os próprios não reconhecerem o bebê como filho, medo de que algum dia alguém possa vir tomar seu filho uma vez que a legislação brasileira ainda entende que o DNA é quem determina a paternidade legal, enfim, muitos medos. Falem sobre estes temores, quando eles aparecem e de que forma, e o que, na realidade, acontece quando o bebê nasce.

|Fábio Pasqualotto| Até hoje, não tivemos nenhum caso de dificuldade de aceitação da criança pelos pais, até porque tem todo um trabalhado com psicólogos que é feito antes. Ao menos aqui, nenhum paciente realiza um tratamento com doação de óvulos ou esperma sem ter certeza de que é isso que quer. Já tivemos casais que desistiram antes de transferir os embriões, mas eles têm que ter ciência de que vão querer esta criança, independentemente do material genético dela. Nós fazemos todo um trabalho tanto com o casal que vai receber quanto com quem vai doar, pois eles têm que ter certeza de que esse é um momento muito importante na vida deles e do futuro bebê..
|Eleonora Bedin Pasqualotto| O trabalho preparatório é muito importante porque uma das coisas fundamentais é que o casal esteja bem resolvido quanto a isso. Na hora em que o casal chega à conclusão de que isso é o melhor, realmente é o que ambos gostariam, o resto todo flui muito bem. Na ovodoação, uma grande vantagem é que a mulher engravida, e na hora em que a mulher engravida, se sente mãe. Não tem nada mais maternal do que estar grávida, não tem genética que ultrapasse isto. Então o que é mais importante?! É a genética?! Ou é o fato de a mulher ter o bebê dentro do ventre, senti-lo se mexer e dar a luz àquela criança?! Não tem coisa melhor do que isso. Eu costumo fazer um paralelo com a adoção. Sabe-se que muitas crianças hoje em dia precisariam ser adotadas. Entendo que se pode considerar a ovodoação como uma adoção daquele óvulo. Então, é muito difícil haver uma rejeição tanto da mãe quanto da criança, em função de todo este laço afetivo que se forma desde o momento em que a criança começa a se desenvolver.
|F.P.|Na verdade este filho foi tão desejado, esta gravidez foi tão planejada que é difícil, eu diria quase impossível, chegar na hora e a mãe ou o pai dizerem: "não, agora eu não quero", e a criança esteve todos esses nove meses ali junto com a mãe...
|E.B.P.| Então o trabalho prévio é muito importante para, justamente, o casal poder definir bem e poder perder um pouco estes temores. Na hora em que o casal fica tranqüilo, principalmente a mulher, que é quem vai receber, a futura mãe sabe que, apesar de o DNA não ser dela, o resto todo com certeza vai ser.
|NOI| E quanto à legalidade materna ou paterna, em função do DNA? Afinal, a justiça brasileira ainda não está atualizada com relação a este aspecto, uma vez que considera como filho o fator DNA. Poderia, então, alguém, algum doador ou doadora, vir a reivindicar a criança? Como vocês vêem esta questão?
|E.B.P.| Realmente é uma coisa que foge um pouco da nossa parte. O que se pode garantir é o sigilo absoluto. O método já foi criado desta forma até para proteger as partes, ou seja, nem a doadora sabe quem vai receber, nem a receptora nunca vai saber quem lhe doou. A doadora não fica sabendo nem se houve gestação ou não, isso é importante porque a doadora não tem nem idéia se realmente aquele óvulo formou um embrião, um bebê. A gente sabe que existe até certa jurisprudência conduzindo para o fato de que quem gera, é quem deve manter a criança, mas realmente a lei ainda não prevê este tipo de situação.
|F.P.|Penso que a legislação ainda não vá atrapalhar neste sentido por que o que na prática acontece é uma ajuda de todas as partes. A pessoa que está doando está ajudando e a pessoa que recebe também, então todo mundo sai ganhando. Acho que a legislação brasileira não vai querer mudar esse quadro. Mas existem algumas situações novas também na hora em que se faz congelamento de óvulos, esperma ou embriões. Nós tivemos um caso em que o marido faleceu, a esposa tinha um embrião congelado, e eles não tinham filhos. Com isso, os pais do falecido ganhariam metade da herança e a outra metade iria para a esposa, e a esposa está reivindicando que quer a metade para o filho, só que não tem filho, tem apenas o embrião...
|NOI| O tratamento de fertilização ou mesmo de inseminação ainda é considerado uma alternativa cara ao bolso do brasileiro. Existe perspectiva para que se torne mais acessível? O valor dos processos de fertilização podem se tornar acessíveis a todos?
|F.P.|Na verdade o nosso programa, ARTBaby, visa tentar diminuir os custos dos tratamentos.. Assim, os pacientes que necessitam ajuda na aquisição das medicações, caso estejam cadastradom de acordo com a condição financeira, conseguem adquirir o medicamento necessário ao tratamento até pela metade do preço.
|E.B.P.| Conseguindo o desconto no medicamento, a nossa clínica também faz um valor mais acessível, porque reconhece a sua dificuldade financeira.
|NOI| Isso é inédito ou já existem outras clínicas que fazem isso?
|F.P.|Existem alguns lugares que tentam fazer isso. Alguns não conseguem, mas não é uma iniciativa só nossa.
|E.B.P.| No Brasil já existem várias clínicas que já são formadas com esse intuito, mas é uma situação bem recente essa, tem apenas dois anos...
|F.P.|O intuito é trabalhar na classe C. A classe C não consegue fazer um tratamento de fertilização com os valores normais. Então, como essa classe está crescendo no mercado, vale a pena ajudar e as clínicas começam a trabalhar com essas alternativas também.
|NOI| Na verdade existe aqui um tabu, ou seja, ao mesmo tempo em que há a necessidade de um planejamento familiar nas classes C e D, também há casais que gostariam de engravidar e têm dificuldades para ter filhos...
|F.P.|Pois é. A gente tem aquela idéia de que nas classes menos favorecidas os casais têm sempre dez, doze filhos, mas a verdade é que há casais nesta condição que tentam engravidar e não conseguem, porque a infertilidade independe da condição socioeconômica. Casais que têm muitos filhos os têm porque começaram muito cedo a engravidar; hoje as pessoas tendem a demorar bem mais para tentar ter filhos.
|E.B.P.| De fato, sempre tivemos aquela idéia de que, dependendo da classe social, a dificuldade para engravidar existe ou não existe, mas não é verdade, isso é mesmo um tabu. É que em geral as classes mais baixas começam mais cedo, então muitas vezes se vê casais em que a mulher tem dezoito, dezenove anos e está tendo o primeiro filho. Mas isso vem mudando com o passar do tempo. Essas classes estão começando a se cuidar mais também, a fazer uma contracepção. Começam a querer engravidar mais tarde e aí as dificuldades tendem a aparecer na mesma proporção. Eu acho que isso talvez tenha sido uma das coisas que fez as pessoas perceberem que é preciso começar algum tipo de política com casais das classes C/D que também precisam do tratamento de fertilização.
|NOI| A humanidade já se mostrou mais fértil, no passado, ao menos em resultado de nascimentos. Claro, havia menos métodos contraceptivos e a realidade econômica de uma família era diferente, ou seja, ontem filhos eram uma mão de obra necessária para gerar renda familiar, depois se tornaram um custo alto e hoje são um investimento a longo prazo que pode ou não dar retorno, sob o ponto de vista econômico, o que faz os casais planejarem bem o tamanho de sua família de acordo com a sua capacidade de dar qualidade de vida aos filhos. Acabam reduzindo, assim, o núcleo familiar para um ou dois filhos no máximo. Porém, apesar disso, pode-se afirmar algo sobre aumento ou declínio da fertilidade humana ao longo do tempo?
|F.P.|Do lado masculino sim. Em 1930, na média de semen congelado, a concentração de espermatozóides era de 133 milhões por ml; em 1990 já era de 66 milhões. Há dados de 1994 dizendo que a qualidade do sêmen cai dois a quatro por cento ao ano e cada vez mais vai piorar. Isso acontece devido a uma série de fatores como agrotóxicos, pesticidas, stress, o tipo de vida que se tem hoje, o tipo de alimentação. A qualidade do semen está piorando de maneira drástica.
|E.B.P.| No lado feminino é mais difícil mensurar, porque estes estudos que se fazem com os espermatozóides são muito mais fáceis de serem realizados. Basta olhar o número que era e como está hoje. Nos óvulos não temos como fazer isso. Por outro lado, tem-se visto sim uma piora na qualidade dos óvulos também e um dos fatores que também influencia na mulher é justamente a mudança de perfil da sociedade. Antigamente quanto mais filhos melhor. Cada vez mais agora não é mais assim; os casais têm postergado a gestação porque a mulher tem se colocado no mercado de trabalho tanto quanto o homem e a demora, ao longo do tempo, faz com que a mulher vá diminuindo o número de óvulos. Mas não se tem notado se isso vem ocorrendo mais rapidamente ou mais drasticamente; na verdade se tem notado o contrário, que as mulheres têm deixado para iniciar a tentativa de gestação mais tarde.
|F.P.|A chance do homem ter alguma alteração genética nos espermatozóides, quando ele atinge mais de 40 anos de idade, é semelhante à chance de uma mulher com mais de 40 anos ter um filho com síndrome de Down. Depois dos 40, a qualidade do semen também cai e cada vez mais pacientes jovens estão tendo dificuldades para gerar um filho..
|E.B.P.| Sim, isso é um fato novo, porque até muito pouco tempo atrás se achava que só na mulher a questão idade era fundamental. Afinal, quantas vezes se vê homens com 60 anos que se casam de novo e têm um novo filho? Como isso chama a atenção, se achava que o homem era 'eterno', ou seja, que seus espermatozóides poderiam fecundar em qualquer idade. Mas agora cada vez mais tem se notado que não é assim, que este não é um padrão e que estes homens têm filhos porque, na maioria das vezes, a mulher atual é muito nova e muito fértil.
|F.P.|De fato, hoje, quase 50% dos problemas de infertilidade são masculinos...
|E.B.P.| A idade influencia, sim; homens acima de 40 anos também vão ter dificuldades para gerar novos filhos..
|NOI| Pode-se dizer que, se a sociedade continuar com essa conduta, a tendência seja de extinção?
|F.P.|Cada vez mais se está buscando coisas novas para amenizar esse problema..., não diríamos extinção mas uma redução drástica de população, sim.
|NOI| Entre os fatores que estão provocando uma diminuição da fertilidade humana pode estar o padrão alimentar, ou seja, o consumo de produtos industrializados, por exemplo?
|F.P.|Sim, com certeza. Inclusive o uso de materiais plásticos em contato com alimentos, como embalagens, pratos descartáveis, talheres... sabe-se que o plástico libera substâncias nos alimentos e essas substâncias agem na diminuição da fertilidade também. O plástico libera substâncias que irão piorar a qualidade do semen.
|NOI| Então se pode dizer que seria melhor usar um talher de madeira, que tantos condenam por reter bactérias, do que um de plástico?
|F.P.|Se a gente parar para pensar em qualidade de vida, sim. O stress, a alimentação, o cigarro, são fatores que diminuem muito a fertilidade humana. Existem estudos mostrando que quando os pais fumam, a chance do filho ter um tumor é cinco vezes maior. Eu diria que, entre as coisas que todos os casais devem procurar fazer, estariam: tentar diminuir o peso corporal, tentar ter filhos mais cedo, tentar evitar cigarro, ter uma alimentação cada vez mais saudável, o mais natural possível, praticar exercícios. Outro fato importante, por exemplo: sauna é ruim para o homem, porque aumenta a temperatura dos testículos e pode piorar a produção de espermatozóides... são coisas assim que temos que cuidar. O índice de dificuldade para engravidar há um tempo atrás era de dez por cento para um casal sexualmente ativo em idade reprodutiva. Hoje já está em quinze por cento. O pico de fertilidade de uma mulher é aos 25 anos de idade. E quando ela chega aos 35, já perdeu 20% da sua função ovariana.
|E.B.P.| Outro ponto importante: os exames que nós, mulheres, fazemos periodicamente no ginecologista -e são muito importantes- nos dão uma idéia geral de como está o organismo, mas eles não nos dão a idéia da reserva ovariana que se tem. Então uma das coisas que às vezes confunde muito é isso, porque normalmente o ginecologista, ao fazer o exame periódico, diz assim: "olha, tu estás ótima", e está realmente, mas a pessoa fica com a idéia de que, mesmo estando com 40 anos de idade, está ótima e pode ter filhos facilmente... Claro que sim, pode! Mas ela vai estar dentro da estatística, ou seja, naturalmente acima de 40 anos ela vai ter apenas uma chance de 5% ao mês de engravidar ao invés de 25% , mesmo que ela esteja ótima.
|NOI| Apesar das modernas técnicas de fertilização, tem sido observado mudanças no comportamento de homens e mulheres diante do nascimento de um filho? Homens mais participativos e conscientes da necessidade de partilhar responsabilidades na rotina de um bebê e mulheres mais preparadas para algumas reações pós-parto, como depressão e exaustão, por exemplo?
|F.P.|Quando um casal chega para fazer um tratamento desta magnitude, ele já é um casal participativo, então já se têm um viés de avaliação, porque foi tão difícil para eles conseguir que chegaram ao ponto de fazer uma fertilização in vitro, por exemplo. Então eles estão focados, vão trabalhar juntos. Esse casal é um casal diferente por isso não se pode considerar este casal como um casal da média da população geral. Ele é diferente, é especial, ele planejou, ele trabalhou e nesse casal que está sempre junto, parece que até as taxas de gravidez ficam melhores.
|E.B.P.| Entendo que sim. Nós aqui sempre temos um acompanhamento psicológico justamente para já ir preparando para o pós-parto. A imensa maioria de pais e mães vai estar preparada, porque já vem de uma caminhada longa, já vem se preparando ao longo do tempo. Para algumas pessoas às vezes é uma surpresa, principalmente quando ocorrem as gestações gemelares, que não são a maioria, e esse é um fato curioso porque as pessoas às vezes acham que uma fertilização in vitro aumenta muito a chance de gerar gêmeos, coisa que eventualmente pode assustar alguns casais. Mas se nós formos considerar, de todos os tratamentos feitos, só 20% vão gerar múltiplos, ou seja, em torno de 80% dos tratamentos o resultado é um filho único. O que acontece, sempre costumo falar isso para os pacientes, é que quando a gente enxerga na rua um casal com um filho ninguém questiona se fez ou não tratamento de fertilização, mas ao enxergar um casal com gêmeos ou principalmente trigêmeos é automático, as pessoas comentam, porque múltiplos são raros e chamam a atenção. A gente nota isso; o casal que tem um filho gerado em tratamento de fertilização em geral, não comenta com ninguém.
|F.P.|É verdade, há muita discrição, a maioria dos casais prefere não comentar. Uma vez nós fizemos um evento aqui na clínica e convidamos os casais que tinham gerado filhos em tratamentos de fertilização conosco e todas as pessoas que vieram tinham gerado mais de um filho e nenhuma delas era de Caxias do Sul, todas de outras cidades. Isso mostra que as pessoas normalmente não querem dizer que fizeram tratamento.
|NOI| Na minha opinião, são tabus, porque, na verdade os pais que buscam isso, se preparam mais e a perspectiva é de que talvez estejam até mais preparados para criar filhos que se tornarão filhos de certa forma privilegiados porque houve um esforço maior por eles, uma luta, um sacrifício maior. Então, entendo que seria algo para se falar com orgulho...
|E.B.P.| Seria, mas não é o que normalmente acontece. Aqui na clínica, por exemplo, uma das coisas que tivemos o cuidado foi de criar salas de espera separadas, ou seja, os casais não se encontram nem na saída, nem na entrada, eles só ficam sabendo que tem mais gente na clínica porque ouvem a movimentação, mas não ficam juntos com outros casais em nenhum momento.
|NOI| Interessante isso. Eu mesma também gerei uma filha com fertilização in vitro há alguns anos e, para mim foi importante ter contato com outros casais, porque acabei fazendo seis tentativas e poderia ter parado na primeira, e não teria minha filha hoje. Lembro de uma mãe que estava visitando a clínica com um bebê no colo que me disse, na sala de espera: "eu tentei nove vezes para ter este bebê e agora vou tentar de novo para ter outro". Eu estava desanimada e ela me estimulou a continuar. Ainda bem! Por outro lado, os tratamentos de fertilização via de regra implicam na utilização de medicamentos que agem sobre o sistema hormonal da mulher. Quais as possíveis implicações disso a longo prazo? Que cuidados uma mulher que utilizou estes métodos deve adotar ao longo da vida, depois?
|E.B.P.| Todos os estudos, até hoje, mostraram que mesmo sendo doses altas de hormônios que se utilizam durante o tratamento, teria que se fazer um período de tratamento muito maior do que é feito para que houvesse qualquer efeito cumulativo a longo prazo no organismo. Já se tentou relacionar este tratamento com o câncer de mama, o câncer de ovário, por exemplo, e nenhum destes casos foi correlacionado diretamente com os tratamentos que se faz. Uma coisa seria a pessoa ficar três ou quatro anos fazendo todos os meses continuamente algum tipo de estimulação hormonal, aí seria diferente. O importante é que o casal tenha uma orientação bem feita desde o início para que possa fazer a sua pesquisa, identificar suas causas de infertilidade e partir para o tratamento certo, porque algumas vezes vai acontecer de a mulher ficar um ou dois anos utilizando citrato de clomifeno, por exemplo, e não engravidar e depois deste período partir para a fertilização ou para algum outro tratamento e então entram outros hormônios. Aí alguns estudos mostraram que a utilização do citrato de clomifeno por longos períodos pode levar a algum efeito a longo prazo.
|NOI| Existe uma idade máxima para a mulher engravidar? E para o homem?
|F.P.|Não, mesmo que ela esteja na menopausa ela pode engravidar com ovodoação.
|NOI| Quais os principais métodos de reprodução humana utilizados hoje?
|F.P.|O que mais se faz ainda é a indução da ovulação e controle da ovulação, que é o primeiro passo.
|E.B.P.| Indução com relação programada, isto é, se programam as relações no período fértil da mulher e se faz a indução para ela ter mais óvulos, aumentando a chance de fecundação natural.
|F.P.| Mas isso também depende, porque se o homem tiver um problema, precisamos tratá-lo. Às vezes a mulher tem uma endometriose e o homem acha que o problema é só a mulher, que ele não tem problema algum, quando na verdade os dois precisam ser analisados antes de tudo. É preciso tratar todas as causas da infertilidade porque, senão, poderia ser ministrada uma medicação e a pessoa não engravidar.
|NOI| A Conception faz todos estes tratamentos?
|F.P.| Sim, e o tratamento das causas também fazemos.
|E.B.P.| Às vezes as pessoas acham assim: "se eu tiver que chegar em uma clínica destas, automaticamente terei que fazer uma fertilização". Nem sempre. Mas as pessoas ficam com essa idéia na cabeça e vão postergando a decisão de vir fazer uma avaliação. Aí, quando vêm fazer a avaliação, se percebe que talvez o casal não precise fazer a fertilização, ou, então, se tivesse vindo cinco anos antes, não precisaria mas agora irá precisar. A avaliação é feita para se determinar a causa da infertilidade e, a partir disto, se estabelecer o procedimento adequado.
|NOI| Aqui no Brasil, o que dificulta o trabalho nesta área?
|F.P.|A economia, o preço. Estatisticamente no Brasil, 99,2% dos casais que precisariam, não fazem um tratamento. Pra ver como tem gente de uma classe social menos favorecida que precisaria fazer um tratamento e não faz.
|E.B.P.| Justamente e foi baseado neste levantamento, que começaram a surgir as clínicas de baixo custo, e programas como o nosso ARTBaby, para tentar atender também um pouco mais essa população que necessita tratamento e não tem acesso.
|NOI| O que podemos esperar dos próximos anos?
|E.B.P.| Acho que a tendência é surgirem cada vez mais clínicas voltadas para a classe menos favorecida. Infelizmente não se consegue vislumbrar por enquanto qualquer outra maneira, algum convênio, ou o próprio SUS fazendo isso. Os hospitais que hoje fazem estes tratamentos pelo SUS não fazem porque recebem valor do SUS; eles têm outros projetos dentro do hospital com os quais realocam parte da verba para esses tipos de tratamentos.
|NOI| E o congelamento de semen, óvulos, embriões, quando se torna necessário?
|F.P.| Eu acho muito interessante falar de congelamento de semen, óvulos ou embriões. Por exemplo, um paciente que teve um tumor e não pode engravidar em função dos tratamentos oncológicos. Todos os tumores, ou pelo menos boa parte deles, podem piorar a qualidade do sémem, dependendo do tipo de tumor e do tipo de tratamento que for feito. Cada vez mais se curam os tumores, só que lá na frente vai ter uma cobrança dele mesmo, ele vai querer ter filho e não conseguirá em função do tratamento que fez para a cura do tumor. Então, o ideal neste paciente que tem algum tipo de tumor, principalmente em idade reprodutiva, é que congele o semen antes de começar o tratamento oncológico, deixando-o guardado pois não se sabe o que vai acontecer.
|NOI| E com relação ao óvulo, isso também acontece?
|E.B.P.| Acontece, a mesma coisa. A gente tem visto que o câncer de mama, por exemplo, tem atingido idades mais precoces e é um tipo de câncer em que o tratamento pode prejudicar a reserva ovariana. Então o que se sugere é isso também, que se faça o congelamento dos óvulos antes de ir para a quimioterapia. Depois, caso retome a fertilidade após o término do tratamento, ótimo, a pessoa pode até descartar os óvulos congelados, ou, por outro lado, se realmente não recuperar sua fertilidade, terá uma chance com aqueles óvulos que estavam congelados.
|F.P.| Também existe uma tendência cada vez maior de as mulheres quererem engravidar com uma idade mais avançada. Muitas vezes a mulher chega a uma certa idade e ainda não tem um parceiro fixo, não está querendo engravidar, então congela seus óvulos para utilizar quando for necessário. Uma mulher que chega aos 35 anos e ainda não engravidou e não tem um parceiro, eu recomendaria que congelasse seus óvulos. Assim, mesmo que tenha 40 anos, poderá engravidar com seus próprios óvulos mais tarde, ao invés de partir para a alternativa de ovodoação. Hoje em dia ainda é raro a mulher chegar para fazer um congelamento de óvulos. O ideal seria que este congelamento acontecesse realmente até os 35 anos de idade, mas temos nos deparado com mulheres que chegam com 39 anos e querem congelar os óvulos. Aí é mais difícil, nós não vamos ter uma quantidade boa de óvulos para fazer o congelamento. O ideal seria que essa decisão do congelamento viesse até os 35 anos de idade.
|F.P.| A fertilidade humana está piorando, então as pessoas têm que se antenar. Acho que quando se chega aos 33 para 34 anos e ainda não se teve filhos, se têm que fazer alguma coisa, porque depois, quando chegar aos 40, dificilmente vai conseguir engravidar e possivelmente terá que recorrer aos óvulos de outra pessoa.
|E.B.P.| Se tu congelares os óvulos até teus 35 anos de idade, aqueles óvulos serão de 35 anos sempre, independentemente da tua idade a partir dali, isso é muito importante.
|NOI| O custo de congelamento é alto?
|F.P.| Não, ele é bem mais em conta do que uma fertilização. O congelamento de semen então é bem mais em conta, não é nada exorbitante.
|NOI| É feito um banco de semen, de óvulos, não há como haver 'trocas'?
|F.P.| Não. Há muito rigor nisso. Até um fato interessante que aconteceu nos Estados Unidos tempos atrás, gerando um processo, porque um canal de TV foi fazer filmagens em uma clínica de reprodução, e mostrou o vidro com embriões de uma pessoa com o nome desta pessoa e aí ligaram para a pessoa e disseram "olha, eu vi que tu tens um embrião congelado"... De fato, tudo é criteriosamente catalogado.
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