3 de agosto de 2022

 

 Postagem 4.122

BEDIN V.I.P.

PROF.DR. VALCINIR BEDIN

Prof. Dr. Valcinir Bedin, MD, MSc, Phd, PD
Formação
Médico pela Universidade de São Paulo –USP –Brasil
Mestre em Medicina pela Universidade de Campinas – UNCAMP –Brasil
Doutor em Medicina pela Universidade de Campinas – UNICAMP – Brasil
Pós Doutorado em Educação – Florida Christian University – FCU – EUA

Tricologia
Mitos e verdades sobre gestação e tratamentos químicos para cabelos

Julho/Agosto 2014
Valcinir BEDIN
colunistas@tecnopress-editora.com.br


A influência de produtos químicos no corpo humano é muito conhecida pelos estudiosos, e a sua importância em certas fases da vida tem um papel ainda maior.

Da fecundação até o final da gestação, a mulher passa por alterações altamente dependentes dos elementos químicos.

Já foram descritos inúmeros distúrbios reprodutivos associados a solventes, como etanol e diclorometano, encontrados principalmente em sprays de para cabelos.

Várias formulações de corantes, os éteres de glicol de etileno, as nitrosaminas, o formaldeído, o hexaclorofeno e os ésteres de ftalato também não podem ser excluídos desta lista, mas poucos dados referentes à ação dessas substâncias em humanos estão disponíveis.

Distúrbios menstruais podem ser causados por agentes químicos tais como solventes orgânicos.

As cabeleireiras estão expostas a uma variedade de agentes químicos que podem influenciar o eixo hipotálamo-pituitário-ovariano. Um estudo foi conduzido no sentido de investigar o risco de distúrbios menstruais em cabeleireiras. Um grupo de profissionais foi comparado a um grupo de referência, composto por vendedoras de roupas. Após a exclusão de quem usava contraceptivos orais, restaram 194 mulheres para a análise de dados. Foram detectadas associações significativas para ciclos irregulares, oligomenorreia, perda de sangue por muito tempo e dores.

Nenhuma relação estatisticamente significativa foi encontrada para a síndrome pré-menstrual. Concluiu-se que cabeleireiras podem ter um risco aumentado para distúrbios menstruais, mas são necessários estudos adicionais.

Associações com distúrbios menstruais e abortos espontâneos surgiram em estudos epidemiológicos voltados para cabeleireiras. Outras pesquisas mostraram resultados inconsistentes, provavelmente devido a falhas metodológicas (erros de classificação da exposição, amostras de pequenas dimensões etc.). Concluiu-se que há pouca evidência de distúrbios reprodutivos entre cabeleireiras até o presente momento.

O primeiro trimestre da gestação, um período de intenso desenvolvimento dos sistemas fisiológicos, representa a fase de crescimento mais rápida da vida humana.

Qualquer interferência na formação dos órgãos pode resultar em um desenvolvimento anormal, que se manifesta de imediato ou posteriormente.

A exposição a substâncias químicas ambientais pode afetar o desenvolvimento nesses estágios iniciais, e ainda não há uma massa crítica de conhecimento suficiente a respeito das quantidades e identidades dos produtos químicos a que o feto é exposto durante o início da gravidez. O problema é que, os estudos para avaliar a exposição a substâncias químicas no feto são extremamente limitados. Assim, existem meios indiretos para realizar essas avaliações.

Isso pode ser feito por meio da análise de matrizes maternas, como cabelo, unhas, urina, saliva, suor, leite, líquido amniótico e sangue, e matrizes fetais, como sangue e tecido do cordão umbilical, mecônio, placenta e fígado. Já foram publicados mais de 150 artigos com a análise química de tecidos humanos maternos e fluidos fetais. A determinação da exposição a substâncias químicas fetais, no momento do crescimento humano, vai ajudar muito as agências reguladoras nas avaliações de risco e no estabelecimento de normas para a gestão de riscos sobre os produtos químicos ambientais. Mas a pergunta que mais se ouve das grávidas é: ”posso fazer química nos cabelos durante a gestação?”.

Várias das minhas pacientes grávidas, que são cabeleireiras, têm me perguntado se a exposição a produtos que elas usam pode ser prejudicial para os seus bebês. Elas também querem saber se o uso de produtos para cabelos em suas clientes grávidas deve ser motivo de preocupação.

A resposta é que não há evidência de efeitos teratogênicos para mulheres grávidas expostas a esses produtos de uso profissional; no entanto, recomenda-se que cabeleireiras grávidas usem luvas para minimizar a exposição, não trabalhem mais que 35 horas por semana, evitem ficar em pé por longos períodos e certifiquem-se de que os salões onde trabalham tenham ventilação adequada. As pesquisas sugerem que há absorção sistêmica mínima de produtos para o cabelo. Por isso, o uso pessoal por mulheres grávidas de três a quatro vezes durante a gravidez não é considerado preocupante.

Onde estamos hoje em dia?

Vários estudos sugerem que substâncias químicas tóxicas usadas na fabricação de produtos para cabelos podem ser absorvidas através do couro cabeludo em quantidades suficientes para aumentar os riscos de efeitos adversos na saúde de mulheres e seus bebês. Num estudo com 525 mulheres negras de três condados da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, pesquisadores verificaram se a exposição a produtos químicos para alisamento e curling aumentariam as chances de que o bebê fosse prematuro ou de baixo peso ao nascer. Como resultado, tivemos a feliz constatação de que não há associação direta entre esses eventos.

Outro estudo, realizado no Brasil, investigou a associação entre a exposição materna a tinturas para cabelos e alisamentos cosméticos durante a gravidez e leucemia em idade precoce (até os 2 anos).

Um estudo tipo caso-controle de base hospitalar multicêntrico foi realizado em 13 estados do Brasil, entre 1999 e 2007. Mães de 176 casos de ALL (leucemia linfocítica aguda) e de 55 casos de LMA (leucemia mieloide aguda) e 419 controles foram inscritas e entrevistadas. Foram obtidos dados sobre a exposição materna ao alisante até três meses antes da gravidez, ao longo da gestação e durante a amamentação.

Não ficou comprovada a relação entre a exposição materna às tinturas e as doenças, mas novos estudos são necessários para se afastar todas as possibilidades. Portanto, a recomendação é que se evite este tipo de procedimento enquanto se espera o bebê.

De um modo geral, costuma-se afirmar que a gestação não é uma “doença” e sim um processo fisiológico normal da vida das mulheres e que deve assim ser encarada. Mas a parcimônia deve ser a companheira do profissional que trabalha com esta fase da vida, lembrando que muitas vezes menos é mais. Na dúvida, devemos pedir que a grávida espere até o parto para se submeter a tratamentos químicos mais agressivos.


Pesquisa:internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário