14 de agosto de 2022

 

 Postagem 4.148

BEDIN V.I.P.

PROF. DR. VALCINIR BEDIN 
 
 
 Dr. Valcinir Bedin, MD, MSc, Phd, PD
Formação
Médico pela Universidade de São Paulo –USP –Brasil
Mestre em Medicina pela Universidade de Campinas – UNCAMP –Brasil
Doutor em Medicina pela Universidade de Campinas – UNICAMP – Brasil
Pós Doutorado em Educação – Florida Christian University – FCU – EUA


Tricologia
Ação da radiação ultravioleta no cabelo

Maio/Junho 2016
Valcinir BEDIN
colunistas@tecnopress-editora.com.br


O cabelo humano é constituído de uma haste queratinizada e sem alterações metabólicas. Dessa forma, a exposição solar não gera alterações morfofuncionais, como ocorre em neoplasias na pele humana. Entretanto, podem ocorrer modificações físicas na fibra capilar. A radiação solar afeta a aparência do cabelo, tornando-o mais fraco, frágil e menos manejável. Ao contrário da pele, o cabelo não emite mensagem de dor para sinalizar as mudanças geradas pela intensa exposição solar, que aparecem após o acúmulo da radiação solar por muitas semanas.

O cabelo humano contém dois pigmentos orgânicos principais: a eumelanina, de cor marrom e negra, e a feomelanina, responsável pela cor vermelha dos cabelos. Nos cabelos expostos à luz solar, encontra-se um outro tipo de pigmento, a oximelanina - produto gerado pela fotodegradação da melanina, cuja presença afeta quimicamente a coloração dos cabelos e está diretamente relacionada com o fotoenvelhecimento da fibra capilar.

A radiação ultravioleta danifica a fibra capilar e acaba com seu aspecto saudável. Redução da força e do brilho, ressecamento, textura áspera, perda da cor e fragilidade são alguns exemplos de danos provocados pela exposição solar. As proteínas e as melaninas da fibra capilar são os alvos prioritários da fotodegradação. Entretanto, os mecanismos bioquímicos e fotoquímicos envolvidos na geração dos danos provocados pela radiação solar ainda não estão totalmente elucidados. De acordo com a literatura científica, existe muita dificuldade no estudo da melanina da fibra capilar, o que torna o estabelecimento de um completo mecanismo de fotodegradação um desafio aos pesquisadores.

A luz solar altera os aminoácidos da cutícula mais intensamente que os do córtex, já que as camadas mais externas da fibra capilar recebem maior intensidade de radiação. Essa alteração causa a ruptura e a separação das camadas externas.

Hoting e colaboradores, em 1995, estudaram os efeitos da radiação UVA e UVB e da luz visível sobre a fibra capilar e verificaram que, após irradiação por seis semanas, ocorreram alterações na cor e perda proteica da fibra capilar. Eles observaram que estes parâmetros variaram de acordo com o comprimento de onda e o tipo de cabelo analisado. A coloração do cabelo escuro foi alterada exclusivamente pela luz visível, e o único tipo de cabelo que apresentou modificação de cor na presença de radiação UVA foi o loiro. Assim, os autores atribuíram à luz visível a principal responsabilidade pelas alterações de coloração na fibra capilar. Os danos aos aminoácidos da cutícula foram semelhantes nos diferentes tipos de cabelo devido à ausência de pigmentos nesta região. Nogueira e Joekes, em 2004, avaliaram o efeito da radiação ultravioleta e da luz visível em diferentes tipos de cabelo (castanho, loiro e ruivo). Os autores verificaram que as radiações UVB e UVA são as principais responsáveis pela perda de proteínas capilares e pelas mudanças de coloração.

Os lipídios que constituem a fibra capilar são responsáveis pelo brilho e pela redução do atrito no ato de pentear. A radiação ultravioleta danifica estes lipídios, promovendo sua lipoperoxidação, e provoca o ressecamento do fio e um menor condicionamento, pois o torna suscetível à eletricidade estática e, assim, ele embaraça com mais facilidade e ocorrem quebras com maior frequência.

Diante do exposto, o desenvolvimento e o uso de produtos capilares com substâncias que promovam a proteção à radiação ultravioleta representam uma importante ferramenta na diminuição dos efeitos danosos desta radiação na fibra capilar.

A fotoproteção é um método preventivo usado no combate aos efeitos danosos da radiação UV. No âmbito capilar, ela pode ser realizada por meio do uso de indumentária específica (chapéu, boné e guarda-chuva), restringindo a exposição à luz solar; e pela utilização de produtos capilares contendo filtros solares e tinturas capilares e formulações contendo antioxidantes.

A pigmentação natural das fibras capilares, gerada pelos pigmentos eumelanina e feomelanina presentes no córtex da fibra, exerce proteção contra os danos da radiação UV. Alguns estudos revelaram que cabelos coloridos são menos susceptíveis aos danos gerados pela radiação UV que cabelos sem coloração. As tinturas capilares utilizadas para modificação da cor natural do cabelo apresentam papel semelhante ao exercido pela pigmentação natural.

Estas formulações contêm agentes redutores e oxidantes que podem danificar a fibra capilar por meio de reações de oxidação. No entanto, são capazes de protegê-la dos danos provocados pela radiação UV, como descritos anteriormente. Verificou-se que as fibras sem pigmentação apresentam uma redução da resistência mecânica mais rápida do que aquelas com pigmentos, e foi observado o mesmo comportamento em relação à taxa de quebra das ligações de dissulfeto na cistina.

Pande e colaboradores, em 2001, estudaram o potencial fotoprotetor de tinturas capilares permanentes e semipermanentes e verificaram que elas protegem a fibra capilar dos danos solares. O nível de proteção variou de acordo com o padrão de deposição dentro da fibra, o valor de pH das formulações e o tipo de tintura utilizada (permanente ou semipermanente). Os autores concluíram que as tinturas haviam funcionado no cabelo tingido como filtros solares, atenuando a luz solar incidente e, assim, diminuindo os danos provocados por ela. As moléculas da tintura realizam absorção, elevação de estado energético e retorno ao estado fundamental da radiação solar, reduzindo seus efeitos na fibra capilar.

Além das tinturas, diversos produtos destinados ao cuidado dos cabelos exercem fotoproteção, e as formulações geralmente contêm filtros solares. Existem registros na literatura de que os filtros solares são capazes de proteger a fibra capilar da degradação física e da modificação de coloração, mas há fatores que limitam a fotoproteção exercida por eles. Diversos produtos de uso capilar com ação fotoprotetora utilizam filtros solares UVA e UVB - normalmente empregados para a proteção da pele - adicionados às formulações, como géis modeladores, sprays, shampoos e condicionadores, que têm o intuito de reduzir a quantidade de raios UV que atingem a superfície da fibra capilar, prolongando o efeito de cor da tintura capilar e melhorando as características da fibra. No entanto, não existem métodos de avaliação da eficácia capilar como no caso da fotoproteção da pele. São analisados atributos de condicionamento e manutenção da cor. Devemos considerar sua atuação na formulação, protegendo seus componentes da fotodegradação.

Visando a diminuição dos fatores limitantes da fotoproteção capilar, foi desenvolvida uma classe de filtros solares específica para fotoprotetores capilares -substâncias catiônicas que apresentam afinidade intrínseca com a fibra, provavelmente por interação iônica, e têm efeito formador de filme. Os filtros solares DimetilPabamidopropil Laurdimonio Tosilato (Dimethylpabamidopropyl Laurdimonium Tosylate) e cloreto de cinamidopropil trimônio (Cinnamidopropyltrimonium chloride) são exemplos destas substâncias catiônicas. Condicionadores com filtros solares apresentam maior eficácia fotoprotetora que os shampoos, uma vez que colaboram com a formação de um fino filme sobre a fibra capilar. Apesar de não cobrirem toda a superfície de cada fibra, os filtros solares contidos na formulação conseguem exercer sua função. Os condicionadores de tratamento intenso, que permanecem em contato com a fibra capilar por mais de 15 minutos, são os que apresentam os melhores resultados, já que, além de formarem um filme na superfície da fibra, ajudam na adesão dos filtros solares na superfície da cutícula.

Existem diversas dificuldades relacionadas com o desenvolvimento de formulações capilares fotoprotetoras. Primeiramente, deve-se atentar para sua aceitabilidade cosmética. Outro ponto importante é a distribuição uniforme dos filtros solares sobre a fibra capilar e a sua deposição e permanência sobre ela. A permanência e distribuição uniforme por um período prolongado caracterizaria o comportamento ideal de fotoproteção capilar, como no caso de condicionadores sem enxágue. Neste contexto, torna-se importante o estudo das características químicas dos filtros solares utilizados. No caso de serem lipossolúveis, apresentariam dificuldades de distribuição uniforme sobre a fibra capilar, e os filtros solares hidrossolúveis podem ser facilmente eliminados na lavagem dos cabelos após a aplicação do produto.

Outro fator limitante da fotoproteção exercida por produtos de uso capilar é a fotoinstabilidade dos filtros solares. Bernhard e colaboradores, em 1993, estudaram diferentes filtros solares e verificaram que, após dez dias de irradiação, a benzofenona-3 apresentou 90% de estabilidade, a benzofenona-4 foi um pouco menos estável, com 60% de estabilidade, e o octil-dimetil PABA apresentou estabilidade menor que os demais filtros. Após a aplicação de fotoprotetores que apresentavam 5% de cada filtro citado, seguindo o protocolo de dez ciclos de lavagem, secagem e irradiação, os autores verificaram que a benzofenona-3 e a benzofenona-4 proveram maior proteção em relação à perda da cor e à retenção das propriedades elásticas do que os demais filtros estudados. Além disso, os autores concluíram que a eficácia fotoprotetora de produtos capilares não dependeu apenas do tipo de filtro solar empregado e de sua concentração, mas também da complexa interação entre o princípio ativo, o veículo escolhido e o substrato.

Muitas pesquisas são necessárias para o aprimoramento de formulações fotoprotetoras destinadas ao uso capilar, e as existentes ainda apresentam fotoproteção limitada. No desenvolvimento cosmético, deve-se procurar adesão adequada do produto à cutícula, assim como, busca-se a formação de um filme uniforme em toda fibra capilar em espessura adequada, sem proporcionar ao cabelo aspecto untuoso, pegajoso e sujo.

Atualmente, existem pesquisas investigando outros mecanismos de fotoproteção para os cabelos. Sabe-se que reações de espécies reativas de oxigênio, induzidas pela luz visível, podem danificar a fibra capilar. As pesquisas verificaram que a maioria dos antioxidantes aumentou a capacidade de proteção estrutural de produtos fotoprotetores capilares e que alguns antioxidantes apresentaram tendência a reduzir os danos em cabelos naturalmente coloridos.

Concluindo: a exposição solar, mais precisamente a radiação ultravioleta (UV), representa fonte potente de dano à fibra capilar, gerando modificações por meio da fotodegradação e do fotoenvelhecimento.

Entre os recursos para promover a fotoproteção capilar, estão: o uso de produtos capilares contendo filtros solares específicos para a fibra capilar e antioxidantes, veiculados em formulações cosméticas como condicionadores (creme rinse, creme para pentear e reparador de pontas, dentre outros) com e sem enxágue e tinturas; a restrição da exposição ao sol; e o uso de chapéu, boné, viseira etc.

Estudos científicos referentes a este tema deverão ser conduzidos a fim de promover a saúde capilar, representada por seu condicionamento, e elevar a eficácia dos tratamentos químicos de modificação da forma e da cor e de melhora na aparência da fibra capilar - tão comumente e indiscriminadamente empregados na atualidade, por homens e mulheres, independentemente da faixa etária, da raça e do nível social.


Pesquisa:Internet

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