11 de julho de 2014

Postagem 171
BEDIN V.I.P

SUSAN BEDIN



Lee à brasileira

      Antonio queria um filho.  O varão não veio e a mãe resolveu valorizar as quatro meninas  com nomes grandiosos. Daisy deveria ser justa como Cristo. Susan poderia ter sido Hayward, a glamorosa atriz mas Brenda Lee, a cantora, falou mais alto. Grace, só podia ser Kelly, apesar de Antonio duvidar da beleza da menina.  Ingrid veio da Bergman e Lisa, claro, da Minnelli.  Assim, Daisy Christiane, Susan Lee, Grace Kelly e Ingrid Lisa, contentaram a mãe Diva, cujo nome é Divair.  Eu sou a Suzi, Suzana, Suza e logo cedo descobri  que dificilmente seria chamada de Susan.
   Nascemos em Maringá,  as quatro Marias pois usávamos  blusas estampadas com um M enorme de propaganda da empresa onde papai trabalhava. Alguns não sabiam ao certo se éramos mesmo meninas devido aos cabelos tosados por causa dos piolhos.  Vivíamos com tungans penetras,os  bichos de pé e as pernas eram marcadas pelas picadas de insetos. Viemos estudar em São Paulo e mesmo numa cidade internacionalmente conhecida, a pronúncia dos nomes ainda causava indignação: onde sua mãe estava com a cabeça, em Bollywood?
     Eu não sabia cantar como Brenda Lee e tampouco atuar como Susan Hayward então decidi ser normalista. Formei-me  num colégio de freiras , cujo nome, bordado num uniforme social composto por uma camisa branca, calça de tergal vinho e sapato da mesma cor, também chamava a atenção. Ao andar pelas ruas, a caminho do colégio na avenida Santo Amaro, ouvia dizerem: Jesus, Maria , José, amém.
      Sou professora graduada em História pela USP e sinto grande atração por leituras biográficas: Catarina de Bragança, A vida de Elizabeth I e outra Catarina, a Grande – retrato de uma mulher foram minhas últimas leituras desse mês. Trabalho em três instituições particulares de ensino e ainda assim possuo uma conta bancária negativa. Claro que com esse nome de artista desejei aparecer na tv e até me casei com um cantor, mas ele só se apresentava em restaurantes.  Hoje, divorciada duas vezes, sinto que, aos 44 anos, posso ter no meu currículo, além de um nome estranho,  a pós- graduação em Jornalismo que estou cursando e quem sabe publique algumas matérias como Susan Bedin.  Há tempos desisti de usar meu nome completo e evito assim alguns constrangimentos. Certa vez, ouvi uma mãe de aluno falar por dez minutos sobre a dificuldade do filho em entender a língua estrangeira quando concluí que ela estava conversando com a professora errada, já que nunca falei chinês.  Num outro colégio, na sala dos professores, tive meu nome em destaque na lousa de avisos: Susan Lee, sua irmã Grace Kelly ligou e Elvis Presley mandou um abraço.
       As irmãs com nomes de artistas ainda não tiveram os quinze minutos de fama e Antonio não é mesmo um homem de sorte.  Hoje, além das quatro herdeiras,  tem duas netas, minhas filhas, cujos nomes não causam estranheza,  Isabela e Juliana.  Que bom que são meninas e assim não correram o risco de se chamar Elton John e Robert de Niro.

    

     

Um comentário:

  1. Finalmente um representante da familia com dotes verdadeiramente artitisticos e culturais! Parabéns Susan, continue escrevendo assim tão bem e breve teremos um Drummond para admirar!

    ResponderExcluir