17 de julho de 2014

Postagem 177
BEDIN V.I.P
SUSAN BEDIN




Como escrever bem sem ir a Paris

     Paris é inspiradora.  Por ali grandes nomes passaram: Victor Hugo, Scott e Zelda Fitzgerald, Gertrude Stein, Émile Zola e Oscar Wilde.  Hemingway não poderia ficar de fora e registrou suas lembranças.
     Será preciso visitar a Cidade Luz para escrever bem?

  “O conto escrevia-se por si próprio, e eu tinha dificuldade em conduzi-lo. Pedi outro rum Saint James, observando a moça todas as vezes que levantava os olhos ou quando fazia a ponta do lápis, com um apontador, deixando as raspas encaracoladas no pires que tinha sob o cálice.
    - Eu te vi,  oh  beleza,  tu  me pertences  agora, seja quem fôr que estejas esperando e mesmo que nunca te veja mais em toda a minha vida - pensei.  Tu me pertences, toda Paris me pertence e eu pertenço a este caderno e a este lápis.
    Voltei a escrever, entrei a fundo na história e me perdi nela. Agora quem a escrevia era eu; o conto não se escrevia mais a si próprio, de modo que não tornei a levantar a cabeça. Esqueci-me do tempo, do lugar em que me encontrava e nem sequer mandei vir outro rum Saint James. Cansara-me dele sem pensar nisso. Terminei
o conto, afinal, sentindo-me realmente cansado. Reli o último parágrafo e, quando levantei os olhos à procura da moça, não a encontrei mais. Tomara que tenha ido com um homem decente, pensei. Mas sentia-me triste.
  Fechei o caderno, coloquei-o no bolso de dentro, pedi ao garçom uma dúzia de portugaises e meia garrafa do vinho branco seco da casa. Depois de escrever um conto sentia-me sempre vazio e simultaneamente triste e feliz, como se tivesse acabado de me entregar ao amor físico: estava seguro de que este conto que acabara de escrever era muito bom, embora não soubesse quanto o era antes de lê-lo de ponta a ponta, no dia seguinte.”
 
   Como ser Hemingway?
     Entrar fundo na história e perder-se nela requer dedicação, faz-nos sentir cansados e mais importante que escrever é reler, de ponta a ponta, minuciosamente, de preferência em vários dias seguintes.
     Seria Paris a causadora de tamanha inspiração?
    

     “Tornava-se mais fácil pensar quando caminhava e fazia alguma coisa, ou simplesmente observava pessoas entregues a ocupações de sua competência. A ponta da Ile de la Cité, abaixo do Pont Neuf, onde se encontra a estátua de Henri Quatre, formava como que uma aguda proa de navio e havia ali um pequeno parque à beira d'água, com belos castanheiros, enormes e copados. Nas correntezas e redemoinhos do Sena havia excelentes lugares para pescar. Descia-se por uma escadaria até o parque e observava-se os pescadores que estavam por lá e debaixo da grande ponte. Os bons pesqueiros mudavam com a altura do rio e os pescadores 

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